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Recuperar das Dependências (Adicção)

Contra o estigma, a negação e a vergonha associados aos comportamentos adictivos. O silêncio não é seguramente a melhor opção para a recuperação; ninguém recupera sozinho.

Recuperar das Dependências (Adicção)

Contra o estigma, a negação e a vergonha associados aos comportamentos adictivos. O silêncio não é seguramente a melhor opção para a recuperação; ninguém recupera sozinho.

Dia-a-dia nas consultas na busca da recuperação e da dignidade

 

 

Tratamento dos comportamentos adictivos. Importante: Todos os dados pessoais foram alterados de forma a manter o anonimato dos seus intervenientes.

 

Consulta com Cristina (nome fictício. Dependência emocional), abordamos a questão da intimidade nos relacionamentos românticos. Paixão, no início de um relacionamento, pode não ser sinonimo de intimidade e de compromisso, ao invés, pode ser sinónimo de sofrimento. Para algumas pessoas, intimidade é sinonimo de medo – medo do desconhecido, medo da rejeição e do compromisso, medo da exposição, medo do falhanço, medo do medo. A intimidade numa relação é semelhante a um contrato, celebrado por duas pessoas, onde ambas as partes se comprometem a preservar, a partilhar e a colher os seus benefícios, salvaguardando o bem-estar da relação. A intimidade é fruto do compromisso e da honestidade, de ambos os parceiros, faz parte de um processo com propósito e sentido em conjunto com o parceiro/a.

 

Consulta com Álvaro (nome fictício. Alcoolismo) falamos sobre a diferença entre a realidade e a ilusão. Quando ficamos iludidos (negação), através do alcoolismo, só conseguimos enxergar a realidade (verdade) após sofrimento e consequências negativas. O alcoolismo afecta seriamente todas as áreas da vida do individuo. Qual é o limite para a negação do alcoolismo? Não tem... “É só mais uma bebida, amanhã não bebo mais!”

 

Consulta com Maria (nome fictício. Distúrbio alimentar) falamos sobre sentimentos e os comportamentos. Podemos confundir os sentimentos, com aquilo que realmente é o nosso caracter; é necessário desvincular os sentimentos dos comportamentos. Não somos aquilo que sentimentos, mas aquilo que fazemos com os pensamentos e com os sentimentos.

 

Nas consultas abordamos com frequência, a questão da vida e da morte. Alguns indivíduos estiveram "perto" da morte, como consequência do sofrimento da adicção ativa (doenças, tentativa de suicídio, problemas de saúde e/ou overdose, acidentes). Quando se está doente da adicção ativa, as regras para se sobreviver são diferentes da maioria dos mortais. Paradoxo, tanto o sofrimento como o isolamento, aparentam ser uma “companhia” do dia-a-dia, uma segurança, mas no lado oposto, da mesma moeda, são um motivo suficientemente forte para questionar a razão de estar vivo. Em recuperação, é possível atenuar a dor/sofrimento através da ajuda de outras pessoas de confiança.

 

Consulta com Hilário (nome fictício. Adicto ao Jogo) identificamos pensamentos e crenças que mantêm o individuo fechado e isolado (vergonha tóxica). A forma como se defende do sofrimento, por ex. da vergonha e do sentimento de culpa, é atuar com base no prazer imediato, acting out, que reforça o isolamento, a vergonha toxica e o sentimento de inadequação. É um círculo de pensamentos, sentimentos e comportamentos disfuncionais quem mantêm o problema do jogo e o sofrimento; jogar para evitar o confronto com a realidade e a mudança de paradigmas.

 

 

Um número significativo de pessoas, com comportamentos adictivos, aparecem nas consultas, confusas, ansiosas, deprimidas, isoladas, desconfiadas, porque na realidade, e pela complexidade de vários fatores, perderam a perspectiva daquilo que são os seus problemas nucleares. Perante a questão: “Qual é o seu problema?” A grande maioria afirma: "Não sei...são imensos problemas.” A adicção é uma doença cronica e primaria, não é um sintoma de outra doença ou problema.

 

Consulta com Nuno (nome fictício. Adicto ao sexo) falamos sobre o tempo e a relação de intimidade. O Nuno está numa relação com a mulher há 11 anos. Segundo ele, o tempo disponível é empregue nas rotinas, no trabalho, na correria do dia-a-dia, nos filhos, na escola, e o tempo (meses, anos) passam, todavia o tempo para a intimidade do casal vai sendo cada vez menor e insignificante. Já não faz parte das rotinas "namorar". Hipoteca-se a relação por causa da falta de tempo e da pressão do dia-a-dia. A adicção ao sexo afecta e compromete seriamente a relação de intimidade com o parceiro/a.

 

Nas consultas sobre os comportamentos adictivos fazemos um trabalho sobre a vergonha tóxica. Vergonha do corpo, vergonha do filho, vergonha da família, vergonha do passado, vergonha das consequências negativas da adicção. A vergonha tóxica conduz as pessoas a uma vida de silêncio, de desonestidade, de negação e preconceitos, de mentiras (vidas duplas).

 

Consulta, com João (nome fictício. Adicto ao Jogo) falamos sobre as emoções e o ganhar dinheiro. Para o individuo adicto que aposta (Jogar), ganhar é a motivação para a ilusão, sem limites. O individuo não pára quando aposta; apostar é um acto de fé. Apostar é a segurança que desfaz a duvida e a incerteza. Apostar é um acto de promessa garantida de êxtase, para voltar a apostar, mesmo que ganhe ou perca. Na maioria dos casos, perde-se tudo. Sabia que adicção ao jogo apresenta risco elevado de suicídio?

 

Muitas das pessoas que pedem ajuda, para a adicção activa, o seu nível de motivação é reduzido, porque, consideram que não é divertido e também assumem que não precisam de se preocupar com a qualidade do serviço que recebem. Mas por outro lado, consideram assustador pensar que devem preocupar-se seriamente com isso, porque na prática, pode significar responsabilidade e compromisso pela mudança de atitude e comportamentos.

 

Consulta com a Luísa (nome fictício. Distúrbio Alimentar) coloquei uma questão: "Diga-me, quais são as pessoas que fazem questão de a valorizar? Que valorizam, no dia-a-dia, as suas competências e os seus talentos?"

 Resposta: "A minha filha (5 anos)... (pensou mais um pouco e acrescentou) e 2 dois amigos. Mas, imediatamente, retorquiu “Mas ó João, hoje em dia, isso não existe no relacionamento entre as pessoas. Andamos todos a correr e somos todos uns egoístas."

Comentário: A adicção activa afecta seriamente e compromete a qualidade do relacionamento com as outras pessoas.

 

Consulta com Mónica (nome fictício. Distúrbio alimentar) afirmou "Já aprendi que não controlo as minhas atitudes e comportamentos em relação à comida. Sou assim, e percebi que aceitando que não controlo, permite-me ser mais honesta comigo própria. Já não me iludo, com tanta facilidade, que estou dependente do meu controlo; aquilo que meto na boca, a obsessão pela balança e pelo corpo perfeito. Na realidade, o importante é quando voltar a quebrar o meu plano alimentar, preciso de aceitar a impotência e retomar o plano, outra vez. Ao ser honesta já não me auto engano, como acontecia antes."

 

Consulta com Fernando (nome fictício. Filho de pai alcoólico) fiz mais uma constatação, entre centenas delas. Mais um adulto, enquanto criança, onde um dos seus progenitores era alcoólico. Estes adultos, filhos de pais alcoólicos, tal como o Fernando, receiam a intimidade e o compromisso nos relacionamentos românticos, negligenciam os limites da tolerância há dor emocional, são impulsivos, desenvolvem expectativas demasiadamente elevadas e rígidas de si mesmos e baixa auto estima. Em alguns casos, são pessoas expostas e vulneráveis à adicção.

 

Consulta com Ana (filha de mãe alcoólica). Os adultos, filhas/os de pais alcoólicos, "carregam" para o resto das suas vidas adultas as consequências (trauma) do alcoolismo. São adultos que receiam a intimidade, que negligenciam as suas necessidades básicas (amar e ser amado), baixa auto estima, não existe limites nos relacionamentos, em alguns casos, são adultos que desenvolvem relacionamentos de intimidade disfuncionais; não existem limites, hierarquia, papeis. Não possuíram referências/modelos positivos enquanto crianças.

 

Se você, pertence a este grupo de adultos, que enquanto crianças, um ou ambos os pais eram alcoólicos, e atualmente, identifica o receio na intimidade e no compromisso nos relacionamentos românticos, negligencia os limites da tolerância há dor emocional, é impulsivo, desenvolve expectativas demasiadamente elevadas e rígidas de si mesmo, identifica a ansiedade e/ou a depressão, é perfecionista e possui baixa auto estima, convido-o a enviar a sua experiência (texto) através de um email para joaoalexx@sapo.pt. Partilhe a sua experiência, extremamente valiosa, e conte-nos como é crescer numa família em que um ou ambos progenitores são alcoólicos. Garanto sigilo total de todos os dados pessoais.