Tabela E. Morton Jelineck, 1960. Auto avaliação problemas com álcool
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Imagem Dall E 2
Um estudo publicado no Journal of Studies on Alcohol and Drugs apurou que os indivíduos que acreditavam não ter força para combater as suas ânsias eram mais propensos a voltar a beber ou consumir drogas. As crenças dos adictos relativamente à sua impotência eram tão relevantes para determinar se teriam uma recaída após tratamento quanto o nível de dependência física a que haviam chegado. O quadro mental é tão importante como a dependência física. Aquilo que pensamos e dizemos a nós próprios revela-se de uma importância extrema. Rotular-se a si mesmo como possuidor de fraco autocontrolo conduz a menos autocontrolo. Em vez de pensarmos e dizermos a nós próprios que falhamos (por exemplo: mais uma vez… é a segunda tentativa…) devido a qualquer tipo de carência, devíamos de pensar e dizer, a nós mesmos, precisamente o contrário. A conversa interior (selftalk/mentalmente) será mais produtiva se o fizermos com auto compaixão por enfrentarmos adversidades, por desistir, pela rendição, por dores de crescimento e cometer erros é ok. Vários estudos, concluíram que a auto compaixão proporciona uma forte motivação (mindset) relacionado com o bem-estar. Podemos mudar a moldura mental (selftalk - mindset)? Sim, através da mesma mente irrequieta que gera problemas (castigadora/rigidez/pensamentos negativos, juízo excessivamente critico) iniciamos um pacto de tréguas através do autoconhecimento, da autocritica construtiva (feedback com pessoas de confiança) e o poder da auto compaixão. Aquilo que pensamos e dizemos a nós mesmos, principalmente, nas situações adversas revela-se de extrema importância, se queremos mudar, mudamos o que pensamos e o que dizemos a nós próprios – a mente é a mesma, as crenças é que mudam.
Reprimir ou adaptar-se à emoção?
Fiodor Dostoievsky, 1863 escreveu o seguinte «Tente atribuir a si mesmo esta tarefa. Não pensar num urso polar. Imediatamente, verá que a maldita menção ao urso polar lhe vem à cabeça a palpitar durante um período de tempo. Mais recentemente, foram efetuados estudos sobre «pensarmos no urso polar e ficarmos a ruminar no assunto» e os resultados referem que a repressão do pensamento e emoção durante os primeiros cinco minutos, conduz a uma forma mais proeminente e intensa na mente dos participantes (artigo divulgado na publicação Monitor on Psychology). Quando reprimimos uma emoção estamos a enganar a nós próprios, pensando que ao faze-lo conseguimos afastar a fonte do descontentamento. É um mito, é uma falsa crença, não controlamos pensamentos e sentimentos. Quando estamos a reprimir pensamentos e sentimentos, naquele momento, estamos a permitir que as emoções surjam mais tarde, com intensidade e com diferentes nuances e dinâmicas. Gerador do efeito de «bola de neve», ficamos expostos aos impulsos, à negação, ao ressentimento, raiva e à autocritica negativa. Nestas situações, surgem as ânsias, a ruminação ansiosa, a ausência de auto compaixão, perda das funções cognitivas (lidar com conflitos adicionando mais conflitos) e o sentimento de autoeficácia mingua, sinais e sintomas identificados nos comportamentos adictivos.
Como promover o sentimento de autoeficácia perante a adversidade (adicção)?
Contra o estigma, a negação e a vergonha. Em pleno seculo XXI, estas três palavras poderosas, possuem um efeito nocivo e têm um impacto devastador na sociedade, são como uma pandemia. A sociedade somos todos nós. O fenómeno é transversal, no dia a dia, afectam pessoas, familias e instituições no tratamento e recuperação dos comportamentos adictivos, através de preconceitos, tabus, segredos, recaídas, solidão e crenças retrogadas profundamente enraízadas no individuo. O meu trabalho, contra o estigma, a negação e a vergonhar é diagnosticar, informar, educar, acreditar, emponderar e ser um aliado na transformação de juizos, crenças, atitudes e comportamentos no individuo, na familia e na sociedade. Apesar dos efeitos adversos, é possivel recuperar dos comportamentos adictivos e adoptar um novo e saudavel estilo de vida. Existe a esperança.
« Sobriedade é quando os seus filhos olham para si e confiam no que veem » Josh Brolin
Os 12 Passos - simbolos, mitos, arquétipos sobre a recuperação, de Kikan Massara
https://www.taschen.com/en/books/art/04635/the-12-steps-symbols-myths-and-archetypes-of-recovery/
A perda de um ente querido ou a mudança “radical” de estilos de vida e a dor associada, são temas transversais à sociedade. Sabemos da existência de tradições, rituais, regras, atitudes e comportamentos que adotamos a fim de carpir a perda e a dor. Contudo, persistem mitos e tabus sobre a regulação das emoções e a dor. Por exemplo, existem indivíduos, nos períodos de perda e dor, buscam o alívio e o alheamento no consumo de substâncias psicoativas, vulgo drogas, incluindo o álcool e/ou adotam comportamentos repetitivos, geradores de dependência, cujo intuito é o alívio imediato.
A perda e a dor são reações, indícios à perda de um ente querido ou mudança significativa na vida de uma pessoa (por exemplo, divórcio). Gostaria de referir que os indivíduos, homens e mulheres, dependentes de substâncias psicoativas, vulgo drogas, incluindo o álcool, assim como os comportamentos adictivos são afetados por este fenómeno, especialmente, quando iniciam o tratamento. Conheço centenas e centenas de pessoas que iniciaram o tratamento e nenhuma delas alguma vez pensou, apesar de terem consciência da existência de um problema grave, que mudar as atitudes e comportamentos (estilo de vida) fosse algo tão desafiante e exigente no compromisso, na confiança, na esperança, na motivação e persistência e na fé. Ao longo da progressão da adicção o individuo está exposto e vulnerável a situações de abuso emocional e/ou traumático (perda e dor)
Sentir a perda e a dor é condição para avançar na recuperação.
O tratamento psicossocial e espiritual contempla a abordagem à MUDANÇA. Para recuperar é preciso que o individuo contemple o desafio de enfrentar-se a si próprio, à perda e à dor, à mudança de estilos/hábitos/comportamentos na sua vida, existe o passado e barreiras a serem destruídas e substituídas por pontes para o presente ( e o futuro). Tudo isto, na prática, representa um desafio enorme, uma motivação musculada, tempo para reflexão e introspeção. Tenho sido testemunha, a nível profissional, de indivíduos que se re-inventam e adquirem competências que jamais sabiam da sua existência. A grande maioria das pessoas que é admitido em tratamento, seja em regime de internamento ou ambulatório, encontra-se descrente, resistente, assustado porque houve tentativas anteriores que fracassaram e consequências negativas muito dolorosas, em si próprio, na família, incluindo as crianças, e na sociedade. Recordo um caso, o Carlos (nome fictício), 40 anos, adicto ao sexo de longa duração, chegou a tratamento em regime de internamento, acompanhado pelos pais e irmã. Foi efetuada a admissão do Carlos, entretanto a família despediu-se dele e foram embora do Centro de Tratamento. Nessa noite, os restantes pacientes que estavam em tratamento não conseguiram dormir, porque o Carlos, confrontado com a sua atual realidade, descompensou, a nível psicológico (ansiedade extrema, ataques de pânico, etc.) foi necessária uma intervenção médica para o acalmar. Foi possível acalma-lo no momento, mas as crises e a descompensação psicológica mantiveram-se durante várias semanas. A adaptação do Carlos a um novo estilo de vida foi muito dolorosa (mudança)
Foto de Betina La Plante
Obrigada pela "persistência" da dica “Arte Bem Viver” que agora recebi e li.
Chorei, confesso.
Porque aprendi recentemente e constantemente luto para conseguir ser silêncio...
Passei por quase tudo, perdas, divórcio, doença crónica, acidentes, ameaças à integridade física e financeira, pessoas alegadamente amigas que não o eram, alienação parental, desilusão atrás de desilusão e riscos de perda de esperança, que felizmente inverto porque nasci a reclamar, mas a mirar o "copo meio cheio". Sou aquela que é “forte”, “supermulher”, se desenrasca e “adeus”, qual descartável humano, ou desnecessitada de qualquer ajuda por me encararem como lutadora que tudo ultrapassa sozinha.
Se me perguntam como estou nem posso dizer que bem, nem que mal, porque as respostas são desastrosas e nada empáticas, encolho então os ombros, sorrio e digo "um dia de cada vez". Hoje aprendi a sua expressão: se me perguntarem “como estás”, não direi o habitual, mas "faz - se por isso".
Um dos meus amigos ensinou-me sem querer, uma expressão que anotei, "sempre em frente" e "força". Nunca me disse "pensamento positivo" felizmente, pessoa sábia. Não suporto ou sequer admito tal expressão, viro costas com uma desculpa, se estão por bem.
Queira - se ou não, há um estigma brutal contra a doença, a incapacidade física ou limitação mental, por muito que se fale disso... Modas. Estigma contra os pobres, doentes, idosos, pessoas instituídas, desempregados. Sou direta. Não adocem pílulas com intenções ou falsa compreensão.
É mito? Tabu? Negação? Ou a realidade diz-nos que as crianças também sofrem, em silêncio, com os comportamentos adictivos?
Vamos indagar e procurar compreender este fenómeno observado no contexto de tratamento (em regime de internamento ou regime de consultas ambulatórias) do comportamento adictivos, segundo os pais e seus familiares afirmam: “Os meus filhos não são afetados pela adicção.”
Há três décadas, com demasiada frequência, escuto pais adictos com filhos, e familiares, afirmarem, convictamente, que a dependência de substâncias psicoativas, vulgo drogas, incluindo o álcool e/ou comportamentos adictivos (jogo patológico, relações de dependência, adicção ao sexo, compras, furto nas lojas, adicções cruzadas/comorbilidade) não afetam as crianças. 1) são muito pequeninas, não têm o mesmo discernimento que os adultos ou 2) porque não sabendo do problema não sofrem as consequências.
Algumas afirmações mais comuns.
“Os meus filhos são crianças muito pequenas e não se apercebem do problema da minha dependência.”
“Como pai/mãe jamais faria alguma coisa que prejudique os meus filhos.”
“As crianças ainda não se aperceberam o que se passa lá em casa. Apesar das discussões com a família, não consumo drogas em casa.”
“Posso ter um problema de adicção, mas consigo separar da relação que tenho com os meus filhos, impedido assim que eles sejam prejudicados.”
“A minha dependência não é assim um problema tão grave…consigo controlar a situação.”
“Quando discuto com a minha/meu esposa/o sobre o tema é a dependência não há agressividade e antes levamos as crianças para os seus quartos. Não queremos que elas estejam presentes.”
Apesar de o ser humano, ignorar a evidência científica, este fenómeno, sobre a adicção não afeta as crianças, pode ser mais um caso a juntar a tantos outros?
Na sociedade atual, os exemplos sobre a descrença popular na investigação científica são numerosos e não é possível descreve-los a todos neste texto. Estes exemplos que irei expor são suficientes para constatarmos os factos. Sem mais delongas, vejamos vários casos do conhecimento geral. Segundo a investigação científica está comprovado que a obesidade representa risco de doença cardíaca, colesterol elevado, regimes alimentares altamente calóricos, hábitos sedentários, ausência de exercício físico e seguir uma alimentação saudável. Segundo a investigação científica está comprovado que a dependência do tabaco representa um sério risco de cancro nos pulmões. Segundo a investigação científica está comprovada que a exposição excessiva ao sol está associada a cancro da pele, no verão as praias estão repletas de pessoas, mesmo no período do dia em que a temperatura é mais elevada.
Atualmente, sabemos que certos circuitos e estruturas neuronais estão associados à adicção, a dopamina (neurotransmissor) é uma caraterística biológica comum em todas as dependências e comportamentos adictivos.
Dopamina, neurotransmissor que despoleta o gatilho (desperta) do desejo, da vontade associado ao prazer/recompensa é o mesmo que influencia a distorção do pensamento e do autoengano. A adicção é uma doença que consegue defraudar o individuo ( e família). Diz, “Não existe tal coisa…” ou “Existe doença, mas só os outros é que ficam doentes…” ou “Eu consigo controlar…” Existem uma longa lista de justificações e auto engano (falsas crenças, rotinas, rituais, tradições), que o individuo, consciente e/ou inconscientemente, fomentam a incapacidade de diálogo racional consigo próprio (mente para si mesmo, sem ter a noção que o raciocínio/lógica não corresponde aos fatos e realidade). Interessante, observar que este processo também é identificado nas dinâmicas familiares. Nestas situações, se o individuo fosse sujeito ao poligrafo (detetor de mentiras), as suas afirmações eram consideradas verdadeiras. No prazer, na recompensa, no alheamento proporcionado pela adicção, paralelamente, existe um custo, uma divida, “um castigo moral”, “uma sentença”, um estigma que pode levar anos a desaparecer da vida e da recuperação do individuo, assim como, da família.
Durante os anos 50 investigadores americanos conduziram uma experiência sobre os mecanismos neurobiológicos associados ao desejo e à motivação. Para surpresa dos investigadores, quando bloquearam a libertação de dopamina em ratos, estes perderam toda a vontade de viver. Passados uns dias os ratos deixaram de beber água e morreram de sede. Quando os investigadores inverteram o processo, os cérebros dos ratos foram inundados de dopamina, ficaram de tal modo desejosos e motivados que se deslocavam ao local onde obtinham a dopamina 80 vezes por hora. Será assim tão diferente nos humanos? O jogador médio de slot machines é capaz de acionar o dispositivo das máquinas barulhentas 600 vezes por hora. A dopamina é libertada não apenas quando se sente prazer, também é libertada quando se antecipa o prazer. Os indivíduos dependentes do jogo, do alcoolismo, drogas, co dependência, sexo apresentam picos elevados de dopamina antes de jogarem, beber bebidas alcoólicas, consumir drogas, ausência de limites na relação (caos/disfuncionalidade), ou desejo intenso/fantasias sobre o sexo. Esta antecipação do desejo e do alheamento é complexa e pode revelar-se extremamente poderosa na personalidade de alguns indivíduos, por exemplos, nos impulsos, nas funções cognitivas, certo e errado (valores morais universais), regular emoções.
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