Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Recuperar das Dependências (Adicção)

Contra o estigma, a negação e a vergonha associados aos comportamentos adictivos. O silêncio não é seguramente a melhor opção para a recuperação; ninguém recupera sozinho.

Recuperar das Dependências (Adicção)

Contra o estigma, a negação e a vergonha associados aos comportamentos adictivos. O silêncio não é seguramente a melhor opção para a recuperação; ninguém recupera sozinho.

Valores e Equilibrio na Caminhada da Vida



Para aqueles que estão num processo de recuperação da adicção activa sabem muito bem a importância da espiritualidade, conceito não religioso sem dogmas e divindades, na mudança de estilo de vida.

Ninguém nasce adicto ao álcool ou outras drogas lícitas e ou ilícitas, ao jogo, a relacionamentos disfuncionais e dependencia, disturbio alimentar, sexo, compras (shopaholic), shoplifting (furto).

Qual foi o estilo de vida, a dada altura, que conduziu à adicção activa? Comportamento impulsivo? Não haver limites? Sensação de invencibilidade e controlo? Necessidade de “auto-medicação” com drogas licitas, incluindo o alcool, e/ou ilícitas? Dor, depressão e ansiedade?

 

Provavelmente existem muitas explicações, para aquele dia em que o adicto identifica, a perda do controlo, e inicia a dependencia (adicção) - está “apanhado na rede”. Ao longo da minha experiência em trabalhar com adictos, nunca ouvi ninguém afirmar que contemplava, nos seus planos pessoais, um dia tornar-se adicto. Sabemos que as consequências negativas da adicção activa, paralelamente ao prazer induzido pelas substâncias e comportamentos adictivos, todos reportam fases da sua vida de confusão, dor profunda, desorientação, isolamento, ressentimento, depressão, etc. Todas as áreas da vida de um adicto/a são afectadas, mais tarde, procuram-se as soluções para sair do problema. Geográficas, casamentos, filhos, dinheiro, novos empregos, etc. Nalguns casos, já é demasiado tarde. Porque tentou-se tudo, mas o resultado, afinal não é o desejado. O que é que é que resta fazer?

A médio prazo a sensação de vazio acompanhado com a inadequação e desilusão, pelo estigma, a negação, a vergonha, a revolta e a insegurança regressa ainda mais intensa e só é superada pelas “curas milagrosas”, de curta duração, até se retornar, novamente, ao “velhos” comportamentos do passado (ciclo adictivo); usar substâncias alteradoras do humor, jogo, sexo, relacionamentos disfuncionais e dependencia, disturbio alimentar, shoplifting (furto), compras (shopaholics). Estes são os mecanismos  da lógica adictiva que  permite atenuar o desconforto emocional. Nesta fase, reinicia-se o círculo adictivo onde não existe saída possível. A esperança desaparece. Este processo disfuncional pode levar uma vida inteira. Por ex. o individuo com disturbio alimentar andar uma vida inteira à procura da dieta milgrosa restritiva (efeito iô-iô). O individuo sente que cristalizado para atingir e realizar as suas ambições, aquilo que apelido “ um espectador da vida”. As coisas acontecem, mas não muda, nada muda, mesmo. Até ao dia do “julgamento final” em que pede ajuda ou é oferecido ajuda “seria” e construtiva.

Perdoar vs. Ressentir


 

Perdoar é um factor imprescindível nas relações significativas que são afectadas pelas consequências negativas da adicção activa (ex. família ).
Um dia ouvi alguém afirmar que o ressentimento é um dos bloqueios à espiritualidade (não religioso sem dogmas e divindades) da recuperação da adicção (substâncias psicoactivas lícitas, incluindo o alcool, as ilícitas, o jogo, e sexo, o disturbio alimentar, relacionamento de dependencia - codependendencia, o shopaholics - compras, shoplifting - furto). O ressentimento é como uma “ferida aberta" interna que afecta o discernimento (consciência), capacidade de ser responsável, honesto e de tomar decisões positivas que proporcionem qualidade de vida. Turvam a nossa visão da reconciliação do presente e do futuro.

È do conhecimento geral que a adicção activa implica sofrimento e afecta significativamente os vínculos entre as pessoas; "enfraquece-as". Sabemos que durante a adicção activa, directa ou indirectamente, TODOS sofrem os efeitos das consequências negativas. O equilibrio das relações é colocado em causa, assim como os papeis e os limites tornam-se disfuncionais e desestruturados. Afecta a comunicação e as pessoas magoam-se mutuamente . O ambiente familiar degrada-se e a confiança desaparece dando lugar á desconfiança, ao medo à raiva e ressentimento, à vergonha e à culpa. Numa fase avançada da adicção activa toda a família fica doente, passa a ser uma doença de família. Utilizando a metáfora da fruteira; “Se uma maça apodrece, passados uns dias todas as outras maçãs ficam podres.” Participei em inúmeros programas direccionados para a família e ouvi esta expressão vezes sem conta.

O meu objectivo com este post não é reforçar a culpa, pelo contrario, afirmando que alguém seja 100 por cento perfeito, no processo de perdoar. Como humanos podemos faze-lo atraves de um processo de avanços e recuos. È isto que é indispensável para aqueles que estão em abstinência / recuperação, assim como para os membros de família.

Alguns dados preocupantes sobre as consequências do álcool na nossa sociedade


 


Sabia que vários estudos sobre relação entre álcool e suicídio apontam para uma influência do álcool nos comportamentos e na ideação suicida, a diversos níveis. Se por um lado existe uma relação directa entre o consumo de álcool e a prevalência das taxas de suicídio pode-se concluir também que a presença do álcool potencializa a probabilidade da ocorrência de comportamentos relacionados com o suicídio.

Comprova também que este potencializar de comportamentos suicidas acontece não apenas no âmbito da população em geral, mas também em grupos específicos como os idosos, os adolescentes, ou em grupos com determinadas perturbações mentais.
Também a relação entre as características presentes em situações de intoxicação por álcool (como a impulsividade, hostilidade e a agressividade) e o suicídio foi estudada e considerada estatisticamente significativa. Através dos estudos de Christoffersen & Soothill, 2003, o consumo de álcool, por parte dos pais, durante os anos de formação dos filhos potencializa comportamentos suicidas dos filhos.


  

Sabia que Aproximadamente 20% da população entre os 15-64 anos tem problemas de dependência de álcool e outras substâncias psicoactivas. Os custos sociais e económicos decorrentes desta problemática sugerem ser elevados, sobrecarregando o sistema de saúde, prisional e contributivo. Todavia, parece não haver interesse publico em se efectuar estudos sobre o impacto económico (custos) da toxicodependência e do alcoolismo.

Sabia que Quase todos os estudantes de 15-16 anos (>90%) beberam álcool em algum momento da sua vida, começando em média aos 12 ½ anos de idade, e embriagando-se pela primeira vez aos 14 anos. A quantidade média bebida numa única ocasião por jovens de 15-16 anos é acima de 60g de álcool, e chega a quase 40g no Sul da Europa. Mais de 1 em 8 (13%) dos jovens entre 15-16 anos embriagaram-se mais de 20 vezes na sua vida, e mais de 1 em 6 (18%) fizeram “binge drinking” (5 ou mais bebidas numa única ocasião cujo intuito é a intoxicação) três ou mais vezes no último mês. Os rapazes continuam a beber mais e a ficar embriagados com  mais frequencia do que as raparigas, com uma redução pequena na diferença absoluta entre eles. A maior parte dos países mostram uma subida no “binge-drinking” para os rapazes desde 1995 a 1999 e a 2003, e quase todos os países mostram isto para as raparigas (resultados semelhantes são encontrados para países sem pesquisa ESPAD e usando outros dados). Por detrás desta tendência global, podemos ver uma subida no “binge-drinking” e na embriaguez na maioria da UE de 1995 a1999, seguidos por uma tendência muito mais ambivalente desde então (1999-2003).

Sabia que Os jovens carregam uma quantidade desproporcionada das consequencias negativas do alcool, com mais de 10% da mortalidade jovem feminina e cerca de 25% da mortalidade jovem masculina a ser devida ao álcool. Infelizmente, pouca informação existe acerca da extensão dos danos sociais nos jovens, embora 6% dos jovens entre 15-16 anos na EU declarem envolvimento em brigas e 4% declarem sexo desprotegido devido ao seu consumo de álcool.

Pior saúde em áreas carenciadas também parece estar ligada ao álcool, com estudos que sugerem que a mortalidade directamente atribuída ao álcool é mais alta em áreas carenciadas, para além daquela que pode ser explicada pelas desigualdades a nível individual.

Muitos dos danos causados pelo álcool são suportados por terceiros. Isto inclui 60,000 nascimentos com pouco peso, bem como 16% de abuso e negligência de crianças, e 5-9 milhões de crianças em famílias negativamente afectadas pelo álcool. O álcool afecta também outros adultos, incluindo uma estimativa de 10,000 mortes em acidentes de viação com álcool para pessoas (inocentes) que não o condutor alcoolizado, com uma substancial parte de crimes atribuídos ao álcool também possível de ocorrer a terceiros.

Transição do Tratamento para o Regreso à Vida Activa


 

Transição do Tratamento em regime de Internamento Residencial para o Regresso à Vida Activa – Pós-tratamento


 


Trabalho desde 1993 na área do tratamento, em regime de internamento residencial, e acompanhei aproximadamente 650 casos (adictos), e algumas dessas pessoas estão abstinêntes de substâncias há vários anos, enquanto outras, após um período indeterminado retornam aos “velhos” e “familiares” comportamentos da adicção activa, refiro-me aos deslizes e à recaída.
O que motiva as pessoas a mudar de comportamento e almejar uma vida abstinente de substancias psico activas lícitas, incluindo o alcool, e as ilícitas, e “normais” enquanto outras não?

Sempre me despertou imenso interesse o trabalho da prevenção da recaída e as fases de recuperação no vasto e complexo universo de tratamento e de recuperação da adicção.
Qual o significado do tratamento em regime de internamento para uma pessoa, se pensarmos que a recuperação é algo para a vida? Não existem tratamentos no mundo, que garantam 100% de sucesso, isto é, após o período de internamento, que pode variar entre 3 a 4 meses em primaria (primeira-fase) e 12 meses em segunda-fase (extended care/halfway) os adictos consigam permanecer abstinentes e recuperar os valores emocionais e espirituais, não religioso sem dogmas e ou divindades, de volta para o resto da vida. Também partilho da ideia que no tratamento da adicção, como doença crónica, existe sempre a probabilidade de recaída para algumas pessoas ao longo das suas vidas. Somos seres complexos, por um lado, demasiado previsíveis por outro...

Na minha experiência de trabalhar em tratamento não me recordo de alguém que tenha terminado o tratamento, afirmasse “João, vou para casa e vou voltar a usar drogas e continuar dependente”. Pelo contrario. No caso das pessoas que recaíram, após o tratamento, a grande maioria afirmava que tinha sofrido experiências demasiado horríveis, relacionadas com dependência das substâncias psicoactivas lícitas, inlcuindo o alcool e as ilícitas. Acredito também que após um tratamento de internamento as coisas nunca mais serão vividas da mesma forma, quer para aqueles que permanecem abstinentes quer para aqueles que têm deslizes e recaídas. Adquiriram um conhecimento e uma consciência da realidade e da doença, como uma mais-valia. É como plantar uma "semente", o resto deixa de estar ao nosso alcance. È preciso saber aguardar pelos resultados...

Existem vários factores associados a uma transição com sucesso após o tratamento, em regime de internamento para o regresso à vida activa. Após um período de tempo em tratamento em regime “fechado” é chegado o grande momento; ambicionado e temido ao mesmo tempo – de regresso à vida activa. Para a maioria dos adictos abstinentes, familiares, amigos, e em alguns casos no local de trabalho, é um período onde se experimenta um misto de emoções tais como; ansiedade e alegria, insegurança e confiança e re-adaptação.

Adictos abstinentes que possuam fracos recursos e/ou que não se sintam confiantes podem estar mais vulneraveis quanto cometerem deslizes, ao contrario daqueles que sintam mais confiantes. Individuos que desconheçam e/ou não confiem nos recursos de protecção disponíveis (pessoas, lugares e coisas -P.L.C.) para os apoiar, durante a abstinência, tal como, aqueles individuos que tenham duvidas acerca da viabilidade e da eficácia desses mesmos recursos protectores é possível, perante a adversidade, não utilizarem as “ferramentas” de recuperação para si mesmos.

"Desapego Emocional com Amor" um novo significado por Rosemary Hartman


 


“Uma das grandes dádivas sobre a recuperação assenta no conceito de - Desapego Emocional com Amor”.

Originalmente, este conceito foi utilizado para descrever a forma como um membro de família se relacionava com o familiar alcoólico; actualmente o desapego emocional com amor é uma “ferramenta” útil para qualquer tipo de relacionamento intímo disfuncional.

Este conceito pioneiro foi desenvolvido nos grupos de ajuda-mutua, dos Al-Anon, familiares e ou pessoas significativas (ex. esposas ou mães) que tinham relações com alcoólicos na família. A ideia-chave, segundo o Al-anon, prende-se com a premissa de que o doente alcoólico não aprende com os seus erros e consequências se for protegido e encoberto pelos outros, não alcoólicos.

Dentro deste contexto o significado das palavras protecção e encobrimento podem ter imensos significados. Por ex. telefonar para o trabalho do marido inventando uma mentira, porque ele está na cama demasiado intoxicado (alcoolizado). Protecção significa, um familiar dizer à criança que a sua mãe (alcoolica) não foi à festa da escola, porque esteve a trabalhar até tarde, quando na verdade, ela esteve no bar à noite e não conseguiu levantar-se da cama para trabalhar e estar presente na festa da escola.

Costumamos classificar este tipo de comportamentos, como facilitador, porque permitem (facilitam) os doentes alcoólicos continuar a beber, sem a devida adptação às consequências do alcoolismo. Hoje aplicamos a palavra adaptar porque o sentido é menos depreciativo.