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Recuperar das Dependências (Adicção)

Contra o estigma, a negação e a vergonha associados aos comportamentos adictivos. O silêncio não é seguramente a melhor opção para a recuperação; ninguém recupera sozinho.

Recuperar das Dependências (Adicção)

Contra o estigma, a negação e a vergonha associados aos comportamentos adictivos. O silêncio não é seguramente a melhor opção para a recuperação; ninguém recupera sozinho.

Detalhes da vida de pessoas com distúrbio alimentar.

 

Filipa (nome fictício) “Nos dias cinzentos sabe bem o aconchego de um doce. Tive que sair para comprar fruta. Fui ao supermercado e passei nos doces, bolachas, chocolates e comprei. Cheguei a casa e comi. A partir daí pouco mais fiz senão comer. Entrei numa roda em que o que vem à rede é peixe. Comi queijo, com queijo, pinhões, e bolachas. E agora estou mal disposta e zangada”

 

Raquel (nome fictício) “Desde as minhas primeiras memórias que me lembro da comida. Algo se passou comigo em tudo o que se relaciona com a comida. Desde os 6 anos que me recordo de sentimentos de vergonha do meu corpo porque me sentia uma menina gordinha. Desde essa altura que associo o comer a engordar.”

 

Carla (nome fictício) “Quando era criança e recebia a mesada, ia sempre à pastelaria, comprar bolos, e comia às escondidas. Era um segredo que guardava só para mim. Esse segredo mantém-se nos dias de hoje em relação ao meu distúrbio alimentar”

 

Maria (nome fictício) “A balança e o peso é um drama diário, quando peso mais dois ou três quilos tenho sentimentos de culpa e arrependo-me de tudo o que tenho comido. É uma desilusão enorme. Não gosto do meu corpo”

 

Sandra (nome fictício) “Mais uma tentativa milagrosa e sem sucesso para emagrecer. Decidi colocar um balão intra-gástrico. Durante uns meses tive uma dieta restritiva. De inicio só podia beber líquidos. Os primeiros dias foram cheios de dores, mas perdi dez quilos e cheguei aos 80 quilos. Ao fim de seis meses retirou-se o balão, e consegui manter um peso aceitável, mas facilmente aumentei quatro quilos. Voltei mais uma vez à estaca zero, pior ainda, à desilusão. Detesto-me. Perdi o controlo, se é que alguma vez o tive, em relação ao distúrbio alimentar. ”

 

Sofia (nome fictício) “Decidi tomar medicamentos para emagrecer de venda nas farmácias. Tal como as dietas alimentares restritivas, perdi peso. Mas quando reparei, na balança e constatei que não tinha perdido o peso que queria, desisti rapidamente. De seguida, continuei à procura de outra dieta fácil e “milagrosa. Nestas alturas, dizia para mim: A próxima dieta é que vai resultar.”

 

Rita (nome fictício) “Durante uns meses bebia infusões à base de plantas com efeitos diuréticos e laxantes. Andava a beber o referido líquido durante todo o dia. Ouvia imensos comentários das pessoas do tipo: O que andas a fazer com a garrafa atrás de ti? ou Para que é que isso serve? ou Então? È para emagrecer? Perante as comentários dos outros sentia que tinha de me justificar…com mentiras. O resultado, no final, destas infusões foi nulo. Iludida, continuo à procura da dieta milagrosa para perder peso o mais rapidamente possível” 

 

Ana (nome fictício) “Um dia, enquanto folheava uma revista, encontrei um anúncio sobre uns comprimidos para emagrecer. A primeira reacção foi: Vou comprar estes comprimidos para emagrecer. Vou encomenda-los e ninguém tem nada que saber. Andei a tomar estes e outros comprimidos semelhantes durante um ano negligenciando os possíveis riscos para a saúde. Até que descobri que não resultava. Andei a gastar dinheiro para nada.”

 

Paula (nome fictício) “Frequento o ginásio para emagrecer. Quando penso que posso ficar gorda sinto imensa ansiedade e pânico. Nem sequer suporto a ideia de algum dia isso vir a acontecer, e obviamente que este medo se reflecte nas refeições diárias. Não como nada jeito às refeições, limito-me a ingerir líquidos. Quero perder peso, o mais possível, porque sinto que estou gorda. Quero emagrecer, para isso, tenho que treinar, todos os dias, no duro e com intensidade. Sou compulsiva e não consigo concentrar-me noutro tipo de actividade. O exercício físico é o mais importante e tem precedência sobre os relacionamentos e outro tipo de actividades. O meu objectivo é aumentar a quantidade de exercício e quando estou ausente do ginásio, durante mais do que um dia, sinto-me inquieta, ansiosa e muito irritada com tudo e com todos.”

 

 

 

Professor Keith Humphreys e os Grupos de Ajuda-Mutua

O Dr Keith Humphreys investiga há vários anos os grupos de ajuda-mutua associados à recuperação da Adicção, nos EUA. Pessoalmente, gostaria de destacar os grupos de ajuda-mutua dos 12 Passos, por exemplo os Alcoólicos Anónimos (A.A.) visto existirem (mais antigos) em Portugal desde o final dos anos 70. Actualmente, existem vários grupos de ajuda-mutua que utilizamos 12 Passos, para além dos AA, em Portugal. Alguns grupos Narcóticos Anónimos (N.A.), Emocionais Anónimos (E.A.), Familias Anónimas (F.A.), Jogadores Anónimos (J.A.), Codependentes Anónimos (C.A.), Nicotina Anónimos (N.A.).
O Dr Keith Humphreys através dos seus estudos procura sensibilizar a importância e a eficácia deste grupos, na recuperação dos comportamentos aditivos, junto dos decisores políticos.
Felizmente, existe investigação suficiente, apesar de ser nos EUA, que vem desmistificar, para os descrentes, e comprovar, para os crentes, que os grupos de ajuda-mutua funcionam na recuperação dos comportamentos adictivos e são um recurso valido da nossa sociedade.
Siga o link e veja o video.

http://www.fead.org.uk/video169/Professor-Keith-Humphreys:-SFF-Presentation-on-Recovery-May-09.html

 

 

Recuperar É Que Está A Dar

Um caso sobre a progressão na adicção ao jogo

Uma noticia no Jornal de Noticias, de Dezembro 2011, referia o seguinte “Derretia no casino 50 mil euros por noite.” De acordo com a referida noticia este individuo a que vamos chamar Marques (nome fictício), porque na realidade a verdadeira identidade não é relevante, era um indivíduo que nas suas incursões noctívagas fazia-se sempre acompanhar por futebolistas que mais tarde veio a burlar, e muitas vezes fazia questão de ser ele a pagar as despesas nos bares e discotecas. Era visita assídua num Casino da zona norte do país. Segundo o responsável das Relações Publicas do referido Casino, era muito bom cliente, viciado em jogo, que com facilidade perdia milhares de euros. Algumas pessoas que se sentem lesadas e vitimas no processo reclamam 4.022 milhões de euros, todavia os seus rendimentos não permitiam tais gastos faustosos. Na altura em que este post é escrito, Marques encontra-se em prisão preventiva e está falido.

 

O problema relacionado com o jogo não se prende somente em perder dinheiro, as consequências afectam todas as áreas da vida do indivíduo. O jogo revela-se um problema quando interfere na relação com a família, incluindo as crianças, com o trabalho, escola, afecta a reputação, afecta a saúde mental e física, afecta os recursos financeiros,

 

Neste caso especifico, do Marques creio estarem reunidas algumas das principais características adicção ao jogo.

 

Empréstimos e dívidas,

Incapacidade de interromper a actividade associada ao jogo,

Vangloriar-se sobre os seus recursos e competências sobre o jogo (excitação e absorção),

Alienação da família e amigos,

Incapacidade de proceder ao pagamento das dívidas,

Mentira,

A sua reputação é seriamente afectada,

Actividades ilícitas,

Perda do controlo,

As suas investidas para jogar no casino aumentam a frequência e tempo,

Falência,

Desespero,

e finalmente a prisão.

 

Se você identifica um problema associado ao jogo, peça ajuda. No caso do Marques poderá identificar a progressão, a sua (dele) incapacidade de interromper a actividade associado ao jogo e as consequências negativas, isto é, o problema do jogo do Marques foi piorando, cada vez mais, só ter sido possível interromper o seu comportamento problemático na prisão. Se você identifica um problema precisa:

Readquirir o controlo da sua vida,

Precisa de reestruturar os seus recursos financeiros,

Identificar e tratar (reparar) das consequências negativas na sua família, incluindo as crianças,

Prevenir a recaída antes que o seu problema com o jogo complique cada vez mais. Qual é o seu limite para parar de jogar? Se você continuar a jogar, pensando que o faz para recuperar aquilo que perdeu, isso pode significar que não há limite.

Faço votos de que o Marques consiga refazer a sua vida, com dignidade e humildade. Recuperar é que está a dar.