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Recuperar das Dependências (Adicção)

Contra o estigma, a negação e a vergonha associados aos comportamentos adictivos. O silêncio não é seguramente a melhor opção para a recuperação; ninguém recupera sozinho.

Recuperar das Dependências (Adicção)

Contra o estigma, a negação e a vergonha associados aos comportamentos adictivos. O silêncio não é seguramente a melhor opção para a recuperação; ninguém recupera sozinho.

Dica: Recuperação comportamentos adictivos

Recuperar da Adicção envolve sentimentos, nesse sentido, você precisa de reaprender novas competências e recursos de forma a identificar e a expressar os sentimentos (pensamentos-sentimentos-comportamentos). Ao contrário daquilo que possa sentir, não são os sentimentos que determinam que tipo de pessoa é; são as suas decisões, das quais você é o único responsável, para o bem ou para o mal. Não são os sentimentos de definem o caracter, mas o resultado das ações. Por exemplo, qual é o seu ídolo? Mestre? Mentor? Herói? O que é que você admira nessa pessoa? São os sentimentos privados dessa pessoa ou aquilo que ele/a é e faz? Na realidade, você não conhece essa pessoa na intimidade.  

 

 Durante a adicção ativa (circulo adictivo) recorre-se às substâncias psicoactivas lícitas, incluindo o álcool e os fármacos, e as ilícitas ou aos comportamentos adictivos (jogo, sexo, compras, furto, codependência e distúrbio alimentar) para “fugir/adormecer” os sentimentos dolorosos – dor e a compulsão é direcionada para a obtenção do prazer/gratificação. Os fins justificam os meios. “Só mais uma, desta vez vai ser diferente…”

 

Sentimentos Vs. Resultados

Em recuperação faça uma monitorização, a mais honesto possível, dos seus sentimentos, em particular da raiva. Esteja atento/a aos seus impulsos (hábitos e rotinas) aos seus pensamentos irracionais (padrões antigos de julgar as situações e as pessoas). Por exemplo; se você está irritado/a encara um conflito de uma maneira; se está confiante encara o conflito de maneira diferente. Não existe absolutamente problema nenhum, caso você sinta raiva, é humano haver conflitos entre pessoas, principalmente quando se sente frustrado, magoado, desiludido, enganado e/ou injustiçado. Todavia, como você sabe, a raiva é uma energia muito poderosa, que precisa de ser monitorizada e direcionada para algo construtivo. Por exemplo, quando você estiver em raiva (energia poderosa) precisa de pensar no tipo de decisões que pretende fazer e os resultados que pretende atingir, de forma a não cometer os mesmos erros à espera de resultados diferentes. 

 

 

 

Quando o amor não é suficiente

Veja os bastidores do filme "When love is not enough"1 que aborda a relação entre Bill W (Co-fundador dos Alcoólicos Anónimos) e a sua mulher Lois Wilson (Co-fundadora dos Al-Anon 2), com a participação do actor Barry Pepper "Bill W." e da actriz Winona Ryder "Lois Wilson". 

O filme retrata a relação, entre marido e esposa, extremamente afectada pelos efeitos do alcoolismo, durante a "Grande depressão", no inicio dos anos 30, nos EUA. 

 

Em 1999, a prestigiada revista - Time Magazine afirmou que Bill W. era considerado uma das 100 personagens do século.

 

Notas:

1. Tradução: "Quando o amor não é suficiente"

2. Al-Anon é a designação americana dos grupos de Ajuda-mutua que reunem as mulheres e familiares, dos indivíduos alcoólicos

 


 

 

 

 

O problema por Dan Keding

O problema

"Era uma vez um lavrador. Embora trabalhasse noite e dia, nunca conseguia deixar de ser pobre. De cada vez que começava a sentir que estava a tirar o melhor partido de uma situação, tudo acabava sempre por falhar. Se num ano havia seca, no outro havia cheia. Se num ano os rebanhos adoeciam, no ano seguinte os lobos dizimavam-nos. Se num ano o preço do cereal descia, no ano seguinte o rei subia os impostos.

Certo dia, o lavrador estava sentado num tronco, cabisbaixo e desesperado. De repente, apareceu uma estranha e grotesca criatura a dançar, a cantar e a rir à volta do lavrador. Os pelos que lhe cobriam o corpo estavam emaranhados, os olhos selvagens faiscavam e tinha os dentes pretos. O cheiro que exalava quase fez o lavrador chorar.

— Quem és tu?

— Eu, bom homem, sou o teu problema. Só passei por aqui para ter a certeza de que eras o mais infeliz possível!

— Monstro! Então é por tua causa que nunca coisa alguma me corre bem?

— Pois é! Eu sou o teu azar, a tua desgraça. Sem mim, serias um homem com sorte.

Rápido como o vento, o pobre homem agarrou o seu problema pelo pescoço e amarrou-o com cordas fortes. Em seguida, abriu uma cova bem funda e atirou a sua desgraça lá para dentro. Tapou-a com pedras e regressou a casa.

No dia seguinte, a sorte começou a mudar. As ovelhas deram à luz gémeos, as vacas começaram a dar duas vezes mais leite, as culturas cresciam mais depressa e mais alto do que nunca, e as árvores estavam carregadas de frutos. Todos os comerciantes queriam comprar os seus produtos e toda a gente vinha adquirir os seus legumes, frutos e animais. Em poucas semanas, o homem, que fora tão pobre, estava rico.

O lavrador tinha um vizinho que habitualmente era bem-sucedido. Este homem rico sempre olhara com desdém para o lavrador e ridicularizara o seu trabalho. Agora via que o lavrador estava quase tão rico como ele e, ainda por cima, em tão pouco tempo. Um dia, não conseguiu aguentar mais a curiosidade e foi visitá-lo.

— Parabéns, vizinho, pela sua recente boa sorte. Devo dizer que estou admirado com a rapidez com que conseguiu fazer prosperar esta quinta. Qual é o segredo?

— É simples. Encontrei a raiz do meu infortúnio. O meu problema veio vangloriar-se da minha má-sorte e eu apanhei-o. Enfiei-o num buraco fundo, que cobri com pedras, um buraco que fica na minha pastagem. Essa é, sem dúvida, a razão pela qual finalmente tive sorte, depois destes anos todos de trabalho e fracasso.

O lavrador rico não gostou que o vizinho tivesse finalmente triunfado na vida. Naquela mesma noite, rastejou até ao buraco onde o problema do vizinho estava enterrado. Durante toda a noite levantou as pesadas pedras e cavou a terra até encontrar o problema. Desamarrou-o e pô-lo em liberdade.

— Muitíssimo obrigado — gritou o problema. — O senhor é um verdadeiro amigo.

— Agora — disse o homem rico — podes voltar a atormentar o teu antigo dono outra vez.

— Não, não, não! — Gritou o problema. — Aquele homem tratou-me muito mal e atirou-me para dentro deste buraco. Mas o senhor foi tão amável em libertar-me! Vai ser um amo muito melhor. Vou ficar consigo para sempre. Assim foi e assim devia ser."

 

  • Dan Keding, Stories of Hope and Spirit
  • Little Rock, August House Publishers, 2004, (Tradução e adaptação)

 

Pedidos de ajuda que quebram o estigma, a negação e a vergonha III

Pequenos excertos de pedidos de ajuda que recebo todos os dias por email, posteriormente foram enviadas respostas a cada situação em especial.

Se você identificar com alguma situação e ou comportamento em concreto pode escrever um email e solicitar apoio. A resposta será enviada o mais brevemente possível. Todos os dados pessoais foram alterados de forma a manter a confidencialidade.

 

A publicação destes pequenos excertos tem como propósito quebrar o ciclo disfuncional associado ao estigma, à negação e à vergonha. Na sociedade atual, é cada vez mais frequente o aparecimento deste tipo de problemas, refiro-me aos comportamentos adictivos. Por vezes, a distancia, entre pessoas com problemas adictivos idênticos, pode ser uma porta, um prédio e/ou uma mesa do escritório. A ajuda surge quando o ciclo disfuncional do silêncio é  interrompido.  

 

Pedidos de ajuda que quebram o estigma, a negação e a vergonha.

 

1. “Chamo me J. e gostaria de saber como gerir/ conduzir uma situação de consumo excessivo de álcool. A pessoa em questão não reconhece o consumo abusivo. Bebe praticamente todos os dias sozinho e em contexto não-social. Quando o faz, num contexto social, o consumo de bebidas alcoólicas tende sempre para o excesso. Estou preocupada e não sei como conduzir esta situação.”

 

2.“Chamo me A. e sou filho de mãe alcoólica e isso reflete se na minha vida sentimental. Os meus pais separaram se quando eu era criança, vivi com a minha avó até ao início da adolescência, depois fui viver com a minha mãe e aí então, foi realmente muito difícil. Sinto me inadequado e desconfiado nos relacionamentos de intimidade. Sou demasiado exigente comigo e com as outras pessoas, inclusive tenho a necessidade de controlar tudo e todos. Descobri o seu blogue e por isso  procurei a sua ajuda. “

 

3. "Chamo me L. escrevo lhe este email pois estou preocupada com uma situação que está a ocorrer a uma amiga minha : ela quando come doces , pizzas , salgados ( comida pouco saudável , em geral) vomita tudo a seguir. Isto é , ela se comer comida saudável leva uma vida normal , só quando se excede, ingestão compulsiva, é que tem a necessidade de vomitar tudo. Será esta situação normal? Será um vicio ?

Obrigada”

 

4.. “Chamo me P e encontrei por acaso o seu blogue. A minha história é a de alguém que luta e sofre com a adição pelos doces. Tenho alternado entre períodos de ser muito cuidadosa e saudável e depois, algo se apodera de mim e perco a noção de tudo, faço muito mal a mim mesma, estrago a minha vida, isolo me e caio na compulsão. Depois é a paranoia dos dias perfeitos para mudar de vida. O tempo passa e ainda não fui mãe, mas a sensação que tenho é que hipotequei a minha vida, congelei  a vida com medo de sofrer. O açúcar tem sido o veneno que me anestesia da realidade, faz -me fugir de encarar a vida e de ter coragem para tomar decisões e para me amar como sou...a tal auto estima...Ajude-me!”

 

 

5.. "Chamo me M e estou numa relação com um toxicodependente. Apaixonei me por ele. E só soube da sua adicção com drogas duras há menos de dois meses. Sempre notei que receava intimidade e o compromisso. Oscilava entre o sarcástico, distante, desinteressado. Explodia sem razão aparente e criticava-me negativamente. Falei com ele, já não suportava esta rejeição da sua parte. Disse lhe que não queria mais esta relação para mim. Ele mudava ou nada fazia efeito. Ele mudou do dia para a noite, mais atento, carinhoso. Passado uma semana voltou outra vez à rejeição. Mais uma senti me muito insegura. Estou confusa e a ficar farta deste comportamento instável. Até quando aceitar a instabilidade? Será que ele não consegue ter uma relação amorosa estável? Eu também consumo ganzas e bebo álcool. Será que o João me pode ajudar?”