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Recuperar das Dependências (Adicção)

Contra o estigma, a negação e a vergonha associados aos comportamentos adictivos. O silêncio não é seguramente a melhor opção para a recuperação; ninguém recupera sozinho.

Recuperar das Dependências (Adicção)

Contra o estigma, a negação e a vergonha associados aos comportamentos adictivos. O silêncio não é seguramente a melhor opção para a recuperação; ninguém recupera sozinho.

Como é que posso mudar o meu parceiro?

 

 

Relacionamentos de intimidade e a adicção: Como é que posso mudar o meu parceiro que está doente? Não pode, mas pode mudar o seu comportamento e as dinâmicas da relação.

 

Ao contrário daquilo que se pode pensar, a maior grande parte dos indivíduos dependentes de substâncias psicoactivas, lícitas e/ou ilícitas, vulgo drogas, ou comportamentos adictivos, por exemplo, jogadores compulsivos e adictos ao sexo não são pessoas que vivem isolados da sociedade, não são sem-abrigo, não estão todos hospitalizados ou internados em centros de tratamento, pelo contrário, têm as suas esposas/maridos, famílias e filhos, carreiras profissionais, e apesar do estigma e da negação, são indivíduos activos no trabalho e mais ou menos integrados na sociedade. Por falta de informação sobre a adicção e o impacto na família e na comunidade (sociedade) temos a tendência para negar as evidências; as coisas têm o valor que nós decidimos que elas tenham.

 

São homens e mulheres adictos que têm os seus parceiros; namorados/as ou esposas/maridos. Na maioria dos casos, as esposas/maridos e/ou namorados/as sabem da existência do problema no parceiro/a, ou pelo menos, apesar de falta de conhecimento ou informação, têm a consciência de que algo não está bem e que é preciso mudar. Infelizmente, devido à complexidade dos relacionamentos e da adicção não sabem como faze-lo, por causa de vários factores. Um deles é gerarem vínculos que reforçam os seus papéis de zeladores e cuidadores. Isto é, assumem o poder e a responsabilidade de zelar pelo parceiro/a. Eles e elas adaptam as suas rotinas do dia-a-dia às vicissitudes e à adversidade (comportamento problema) relacionada com o impacto da adicção na relação, vivendo num estado eminente de ambivalência, alerta e preocupação. Afinal, no universo das relações, quem é que não tem problemas sobre o comportamento do marido? Da esposa? Do namorado? Da namorada? Todos nós. Contudo, nesta situação especifica da adicção, o problema, para além de se agravar e afectar gravemente os afectos, paradoxalmente, também pode ser atenuado, compreendido e/ou resolvido. A questão é: Como.

 

Leia com atenção e responda a estas três questões:

1. Você tem um relacionamento com uma pessoa dependente de drogas? Ou álcool? Ou Jogo compulsivo? Ou adicção ao sexo? Se a resposta é sim, reflicta sobre estas questões:

 Você castiga a pessoa dependente? Por exemplo, você grita (explosões irracionais de raiva e ressentimento), ridiculariza, ameaça, humilha em frente aos filhos, à família e às outras pessoas. 

Faz questão de dizer às outras pessoas que o seu familiar/parceiro/a dependente é um/a falhado/a.

Ignora (longos períodos de silêncio e indiferença) a pessoa dependente. Faz frequentemente ameaças que o/a vai deixar de uma vez por todas.

 

 

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"Being rich is not about how much you have but how much you can give"

O «Vicio» de drogas, incluindo o álcool, é uma doença; não é uma escolha individual

10 Questões importantes para reflectir sobre as dependências de drogas, incluindo o álcool, e o jogo patológico.

 

1. De acordo com estimativas das Nações Unidas (United Nations Office on Drugs and Crime - UNODC) existem mais de 10 milhões de pessoas dependentes de heroína no mundo. Em cada 1.000 consumidores de heroína, 2,6 morrem, por exemplo, de overdose. A heroína é uma substancia psicoactiva extremamente adictiva.

 

2. Sabia que o abuso de drogas, incluindo o álcool, distorce a percepção da realidade. As pessoas podem revelar-se irracionais, excêntricas e excessivamente desinibidas. Em alguns casos, podem revelar-se violentas.

 

3. Associado ao abuso e à dependência de drogas, incluindo o álcool, o individuo é sujeito à oscilação acentuada das suas emoções que podem variar entre o ódio e a euforia, do entusiasmo à apatia. Por exemplo, é frequente o individuo dependente, estar triste e apático, e ao consumir drogas, incluindo o alcool, proporciona a si mesmo uma sensação de felicidade, apesar de ser efémera.

 

4. Para um individuo dependente de drogas, incluindo o alcool, e o jogo patológico revela-se extremamente difícil ter a percepção sobre os efeitos e as consequências negativas dos seus comportamentos. A dependência é a causadora da maioria dos fracassos e da frustração tornando assim a vida insuportável e em alguns casos mais extremos pode revelar-se caótica. Quanto mais dificuldades, maior será a necessidade de recorrer ao comportamento problemático associado às dependências – abusar de drogas, incluindo o álcool, e/ou jogo patológico.

 

5. No início do consumo de drogas ilícitas, estas intensificam a actividade; mais concentração, mais desinibição, bem-estar e alívio. Gradualmente, na dependência as drogas suprimem a actividade; menos concentração e perda de memória, mais desadequação e constrangimento, desconforto físico e psicológico.

 

6. Dependência de drogas incluindo o alcool.

Você sofre da síndrome de abstinência, vulgo ressaca?

Os sintomas de ressaca surgem quando o individuo abusa das substâncias psicoactivas, do sistema nervoso central até à intoxicação. Os sintomas da ressaca estão associados à frequência, à intensidade e à duração do abuso das drogas, incluindo o álcool.

 

7. Benzodiazepinas: medicamentos tranquilizantes e/ou ansiolíticos sujeitos a receita medica. São substâncias que geram dependência física e psíquica. Caso o abuso seja continuado, a interrupção abrupta representa um risco grave para a saúde. Algumas pessoas dependentes de benzodiazepinas são também dependentes de álcool e/ou outras drogas ilícitas (adicção cruzada) - uso concomitante de substâncias.

 

8. Sabe o que são os analgésicos? São drogas poderosas que interferem com a transmissão de sinais eléctricos do sistema nervoso central pela qual entendemos e percebemos a dor. A maioria dos analgésicos estimula as partes do cérebro associadas ao prazer. Se toma medicação siga a prescrição do seu médico. Não faça auto medicação.

 

9. Alguns efeitos do abuso do álcool e/ou dependência: descoordenação motora, perda da concentração e da memória, danos cerebrais, depressão e doenças do fígado (cancro). O abuso do álcool e a dependência afectam seriamente as relações pessoais; família, trabalho, sociais.

 

10. A dependência de drogas, incluindo o álcool, e o jogo afectam seriamente o desempenho e os relacionamentos profissionais; abstenção laboral, perda de memória e concentração, negligencia, falta de ética profissional, conflitos com colegas e entidade patronal.

O jogo problemático é um problema de saúde publica

 

Este artigo foi publicado no Jornal de Negócios (17 de Fevereiro de 2014)e está disponível só para assinantes online , nesse sentido, disponibilizo-o para si que é seguidor do blogue Recuperar das dependencias.

 

Jornal de Negócios: Nos últimos anos, o volume de jogos de fortuna e azar e apostas desportivas foram aumentando quer em locais físicos, mas como através da Internet. Esse crescimento foi acompanhado pelo registo de incremento de pessoas com adicção de jogo?

O incremento de pessoas com adicção ao jogo e o jogo patológico, através da internet tem sido exponencial. Por exemplo, no final dos anos 90 a maioria dos indivíduos adictos ao jogo, em casinos, eram adultos na casa dos 40 e dos 50 anos. Hoje em dia através do acesso online, chegam às consultas indivíduos com problemas associados ao jogo com idades entre os 24 e os 30 anos. Todavia, isso não quer dizer que todos sejam adictos ao jogo, isto é, alguns são indivíduos com problemas associados ao jogo que varia entre moderado e grave. Na sua pergunta refere adicção, nesse sentido, importa saber o que é a adicção. A adicção afecta a saúde do indivíduo, os vínculos familiares, incluindo das crianças, o desempenho profissional e a qualidade de vida. Ser adicto não é uma escolha pessoal. Ao longo de vinte anos de experiência profissional, na área da adicção, nunca ouvi nenhum individuo afirmar que escolheu ser adicto. Não é um acto voluntario, o individuo perde o controlo, a compulsividade, o craving (desejo intenso e irracional pela actividade) e continuação do comportamento apesar das consequências negativas. A Sociedade Americana da Medicina da Adicção define a adicção como uma doença primária, crónica que interfere e afecta o sistema/estrutura do cérebro responsável pelo prazer e recompensa, pela motivação e memoria e os circuitos neuronais adjacentes. Sabemos que uma alteração e disfunção destes circuitos neuronais conduzem ao aparecimento de sintomas a nível biológico, psicológico, social e espiritual no indivíduo, que se reflectem na busca e recompensa patológica do prazer. Por outras palavras, a adicção funciona como uma “almofada” perante determinadas situações e adversidades ao longo da vida do indivíduo. Este fenómeno repete-se com a adicção às substâncias psicoactivas lícitas, incluindo o álcool, as ilícitas, vulgo drogas, com o jogo, o sexo, as compras, o furto. A fim de ficar esclarecido existe um critério que identifica o jogo problemático (moderado a severo) e um critério para a adicção (doença primária e crónica). A adicção não é um vírus.  

Segundo estudos (American Medical Association, EUA, 2000) existem factores genéticos em comum entre os indivíduos jogadores patológicos do sexo masculino e o álcool. Todavia, também gostaria de referir que nas últimas duas décadas, com os avanços tecnológicos e a investigação, principalmente nos EUA e Canadá, ainda estamos a aprender sobre o que é a adicção; as causas, a identificar aqueles indivíduos mais vulneráveis e os tratamentos disponíveis mais adequados.

 

Jornal de Negócios: É possível traçar o perfil do jogador compulsivo?

Segundo uma investigação no Canadá, os indivíduos com problemas associados ao jogo compulsivo (patológico) apresentam quatro vezes mais probabilidades de serem diagnosticados com doença mental, relacionado com perturbação do humor e ansiedade, do que os indivíduos não jogadores. A actividade associada ao jogo começam na adolescência, com mais prevalência no sexo masculino do que no sexo feminino.

Na minha experiencia profissional o perfil do individuo jogador compulsivo oscila entre os 24 e os 56 anos. Sexo masculino, classe media/alta, licenciados com carreiras profissionais estáveis, trabalham em excesso, têm dívidas, gostam de quebrar regras e correr riscos, são impulsivos e egocêntricos. Acreditam que o dinheiro é a causa e/ou a solução para os seus problemas. Alguns deles afirmam, em situações de desespero, ideações e tentativas de suicídio. Alguns destes indivíduos são oriundos de famílias desestruturadas com problemas de álcool, jogo e violência doméstica.