Contra o estigma, a negação e a vergonha associados aos comportamentos adictivos. O silêncio não é seguramente a melhor opção para a recuperação; ninguém recupera sozinho.
Contra o estigma, a negação e a vergonha associados aos comportamentos adictivos. O silêncio não é seguramente a melhor opção para a recuperação; ninguém recupera sozinho.
Existem drogas para todos os gostos e preferências. Umas drogas servem para relaxar, outras para dormir, outras para ficar mais activo, mais produtivo e "fecundo" (ex. trabalhar), outras servem para se divertir (ex. dançar ou conviver com o grupo de pares), outras para não comer (inibidores do apetite), outras para melhorar a actividade e resistência física, etc. Umas naturais, outras sintéticas.
Na minha opinião, não existem drogas leves nem drogas duras. São todas drogas cujas especificidades não devem ser menosprezadas nem embelezadas com bonitos e apelativos rótulos como por exemplo se faz com as bebidas alcoólicas e/ou com as drogas leves ou pesadas. Na sua generalidade, todas fornecem altos níveis de bem-estar, alivio, recompensa, gratificação imediata e profunda no ser humano, umas mais outras menos quer seja físico, mental e espiritual, não religioso sem dogmas e divindades. Afectam a maneira como nos sentimos, como pensamos e como agimos. Quem nunca se sentiu tentado, pelo prazer proibido ou através do “atalho” quando estamos desconfortaveis e inadequados em contextos sociais?!
Ao longo da minha experiência, não existem adictos que consumam substâncias psicoactivas lícitas, incluindo o alcool, e as ilícitas, cujo efeito dessas mesmas drogas, após a sua ingestão o efeito surja passado 24 horas. Não! O individuo que consome drogas procura o efeito instantâneo, de preferencia intenso e forte. Esta experiencia para algumas pessoas é altamente gratificante e libertadora, de tal maneira, que o desejo de voltar a sentir a mesma experiência tende a repetir mais vezes. Todavia, ninguém fica adicto de drogas de um dia para o outro. Os comportamentos adictivos (adicção) são parte de um processo (comportamentos repetitivos) e de um complexo sistema de factores - cerebro-bio-psico-sociais. Em Dublin, na Irlanda, estudos revelam os filhos de pais alcoolicos apresentam uma pre-disposição para ficar adictos à heroina. De qualquer maneira, não é necessário ter uma predisposição genética para ficar adicto, sabemos que este factor só “ajuda” o processo da adicção.
O ciclo da adicção às substancias é basicamente o mesmo. Abrange três factores:
1) a dependência química,
2) comportamentos condicionados e hábitos (rituais) e
“A anorexia nervosa (AN) é uma doença relacionada com o comportamento alimentar. A característica mais comum é a perda de peso, associada a uma progressiva mudança de comportamento (medo de engordar). A perda de peso é lenta mas progressiva e, normalmente, tem início com uma dieta normal, podendo também ocorrer de forma brusca como consequência de uma determinada restrição alimentar. É designada de privação alimentar (jejum provocado e ou forçado, jejum prolongado ou ingerir alimentos com baixo teor de calorias). E um termo psiquiátrico e é a doença psiquiátrica que apresenta mais fatalidades – 20% das pessoas com esta doença vêm a falecer. Normalmente é tratada como uma doença mental (psiquiátrica) cuja nucleo, centra-se na família disfuncional e outros factores que incluem: a natureza da personalidade da rapariga/rapaz em causa, como por exemplo, a forma de relacionamento entre membros da família, problemas fora do contexto familiar, sobretudo na escola (pressão de pares), abuso, e factores genéticos. Na abordagem médica, normalmente, o aspecto adictivo é ignorado.
A anorexia nervosa é uma doença do comportamento alimentar em que o indivíduo luta de forma a manter um baixo consumo de alimentos, com episódios esporádicos de ingestão de alimentos a que alguns chamariam de alimentação moderada. Todavia, para a pessoa com A.N., estes episódios esporádicos são interpretados como inaceitáveis, terríveis binges (ingestão compulsiva, voracidade, empanturrar-se), com uma forte relação com a imagem corporal distorcida (dismorfia corporal). A maioria dos anorécticos utiliza manobras purgativas (vomitar, usar laxativos e/ou outros métodos de eliminação de alimentos) depois de um episódio de binge (ingestão compulsiva, voracidade, empanturrar-se).
A anorexia nervosa parece ser mais da área da psiquiatria do que da adicção. As pessoas com anorexia nervosa revelam mais do que pensamento e comportamento disfuncional, em relação à alimentação, pode envolver outras áreas. Em alguns casos a família é super controladora, demasiado protectora, e podem existir outros problemas que vão além da adicção na família. Generalizando, a maioria dos anorécticos não responde positivamente ao modelo de tratamento da adicção, mesmo sendo numa boa instituição.
Adicção á privação (jejum provocado, jejum prolongado ou ingerir alimentos com baixo teor de calorias) – a privação influencia e interfere em muitos neurotransmissores (cerebro) e outros agentes bioquímicos. Neste sentido, é plausível tornarem-se adictos aos próprios agentes bioquímicos. Evitar a ingestão compulsiva/voracidade – A maioria dos anorécticos sentem um medo tremendo de comer (pânico), nas suas mentes surge o medo de não conseguir parar de comer. Este medo pode ter a origem no peso exagerado (passado) e ou obesidade na família.
Restringir/privação vs. Purgar alimentos (Manobras de Purgativas) - Muitos anoréxicos intercalam entre episódios de ingestão compulsiva de alimentos (voracidade, empanturrar-se - binge) vs. vomitar, usar laxativos e/ou outros métodos de eliminação de alimentos - (purge), apesar das regras auto impostas, muito restritas e rígidas, quanto à alimentação. È possível ser anoréxico e bulímico, ao mesmo tempo. Existem dois tipos de Anorexia Nervosa:
Anorexia Nervosa Restritiva - É caracterizada por uma dieta rigorosa e recusa em manter um peso normal e a Anorexia Nervosa
Compulsiva/Purgativa (também designada por Anorexia Nervosa Bulimica) - Aqui predominam as crises bulimicas e os comportamentos para evitar o aumento de peso. Os critérios de diagnóstico para a Anorexia Nervosa são: Recusa em manter o peso corporal para a idade e altura.
Efeitos da privação / jejum provocado – alteram o equilíbrio neuroquimica e as funções do organismo. O efeito, no cerebro (sistema límbico) parece ser semelhante aqueles encontradas nas drogas estimulantes do sistema nervoso central.
" A toxicodependencia é uma doença do cérebro, e isso é importante"
Tradução "Addiction is a brain disease, and it matters" Dra Alan Leshner
"Os avanços cientificos dos ultimos 20 anos têm revelado que a toxicodependencia é uma doença crónica, recidivante (recaídas e deslizes) que resulta do efeito prolongados das drogas no cerebro. Tal como muitas outras doenças cerebrais, a toxicodependencia abrange aspectos comportamentais e de contexto social que são partes importantes do próprio disturbio. Assim, as abordagens terapêuticas mais efectivas incluirão componentes biológicas, comportamentais e de contextualização social. Reconhecer a toxicodependencia como uma doença crónica, recidivante, caracterizada pela procura e uso compulsivo de drogas pode ter impacto nas estrategias globais de saúde, nas politicas sociais, diminuir os custos sociais e de saude associados ao uso de drogas e à toxicodependencia. (...) Uma grande barreira é o tremendo estigma associado a quem consome drogas, ou pior, é toxicodependente. A perspectiva publica dos toxicodependentes é a de que são vítimas da sua situação social. Contudo, a visão mais comum é a de que os toxicodependentes são pessoas fracas ou más, sem vontade de orientar as suas vidas com moral e de controlar os seus comportamentos. (...) O abismo de implicações entre a perspectiva da "pessoa má" e a perspectiva do "sofredor de doença crónica" é tremendo. A título de exemplo, há muitas pessoas que acreditam que os individuos toxicodependentes nem sequer merecem tratamento. Este estigma, e o tom moralista subjacentre, conduzem a uma sobreposição significativa em todas as decisões relacionadas com o uso de drogas e os toxicodependentes. Outra barreira resulta de algumas pessoas que trabalham nos campos da prevenção e do tratamento da toxicodependencia mantêm ideologias entranhadas que apesar de usualmente diferentes, na origem e na forma, das ideologias do publico geral, podem ser igualmente problemáticas"
Artigo retirado da revista Cérebro Toxicodependente - boletim de neurociencias cognitivas e neuroimagem na toxicodependencia da Biopress