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Recuperar das Dependências (Adicção)

Contra o estigma, a negação e a vergonha associados aos comportamentos adictivos. O silêncio não é seguramente a melhor opção para a recuperação; ninguém recupera sozinho.

Recuperar das Dependências (Adicção)

Contra o estigma, a negação e a vergonha associados aos comportamentos adictivos. O silêncio não é seguramente a melhor opção para a recuperação; ninguém recupera sozinho.

Foi à primeira tentativa? À segunda tentativa?

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 "Em geral, nos EUA, 2 (duas) é o número médio de tentativas para tratamento de problemas sérios relacionados com o abuso de drogas e alcohol. Nos casos mais graves de dependência de drogas e alcool o número de tentativas para tratamento aumentam para o dobro." Recovery Research Institute

E em Portugal? Não conhecendo números ou estimativas em investigações, consigo refletir sobre o assunto de acordo com a minha experiência empírica na area do tratamento das dependências durante três décadas. Há trinta anos atrás, a disponibilidade do tratamento era completamente diferente do que é na atualidade. Atualmente, apesar de o estigma se manter inalterável e imutável, a disponibilidade de tratamento da adicção a drogas e álcool, creio estar ao alcance de qualquer pessoa, devido às novas tecnologias. Sabemos que quando se coloca a questão da necessidade de tratamento das substâncias psicoativas (drogas lícitas, incluindo o álcool, e ilícitas) na família, recorrem ao Google para facilitar na seleção da instituição. Na minha opinião, o número de tentativas para tratamento das drogas e álcool em Portugal é semelhante à realidade dos EUA, segundo o Recovery Research Institute.

Felizmente, conheço imensos casos de pessoas que à primeira tentativa conseguiram permanecer abstinentes e em recuperação durante longos períodos de tempo. Infelizmente, conheço algumas famílias e indivíduos, que andam há mais de duas décadas a tentar resolver o problema da dependência das drogas e do álcool. Para terminar, considero mais difícil, isto é, necessário mais tentativas para tratamento do que as drogas, o álcool. O álcool é uma droga legal e a sociedade encoraja, estimula, promove o consumo e o abuso do alcool entre as pessoas - pertencemos a uma cultura que bebe. Atrevo-me a afirmar que em pleno seculo XXI ainda existem pessoas que não sabem que o álcool é capaz de gerar dependência.

Sinais dos tempos - a adicção aos videojogos.

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Desde os tempos mais remotos, o ser humano precisou de se alienar, de negar a realidade e adapta-la à sua vontade, de entrar em contacto com algo que o transcenda, precisou de “amortecedores” e “filtros” para se relacionar consigo próprio e os outros. Há vinte anos atrás, em Portugal, as adicções mais conhecidas eram as dependências de drogas ilícitas, vulgo toxicodependência (termo em desuso), o alcoolismo e numa escala mais reduzida o Jogo patológico a dinheiro nos casinos. Na ultima década, as “velhas” adicções mantêm-se inalteráveis, com algumas mudanças (novas substancias psicoactivas ilícitas foram descobertas) e surgem as novas doenças do comportamento adictivo relacionados com a Internet (redes sociais, os videojogos e o jogo patológico online a dinheiro). Mais recentemente, surgiram noticias nos meios de comunicação social de que a Organização Mundial de Saúde decidiu que a adicção aos videojogos (comportamentos adictivos) será incluída na revisão da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde, previsto para 2018 cuja sigla é conhecida como CID. Significa que, brevemente, todos nós iremos ter acesso aos critérios de diagnostico da doença e a respetiva legislação. Costumo dizer que jogar está no nosso ADN: quem é que não gosta de jogar? Quem é que joga para perder? Talvez por isso os vídeos jogos sejam uma indústria milionária que gera milhões de euros em todo o mundo.

 

 

Carta ao Jack, amigo do pai.

 

O pai de Laura tinha um problema com o alcool, nesse sentido, ela decidiu escrever uma carta ao « Jack, amigo do pai». Sabia que as crianças, são negligenciadas nos casos em que o progenitor ou ambos abusam do álcool?  São o elo mais fraco.

 

Ao contrario do que se pensa, é possível recuperar da adicção

Suicídio: um acto silencioso e isolado fundamentado em sentimentos temporários e dolorosos.  

Acompanhei inúmeras pessoas que durante uma fase atribulada e dolorosa das suas vidas, afectadas pela adicção activa, contemplaram o suicídio. A adicção é uma doença que na sua génese gera imenso sofrimento, isolamento e que precisa de ser tratada; não é uma questão moral ou fraqueza, mas um problema de saúde, tal como muitos outros. Após ultrapassarem essa fase adversa, essas são pessoas, hoje, não menosprezam as lições do devir. A maioria de nós, nos momentos atribulados de dor intensa, questiona a existência angustiada e atormentada, mas depois de transpor estes sentimentos dolorosos, ficamos mais lúcidos e conscientes das nossas limitações. Apesar de precisarmos de aprender a viver com a dor, podemos e conseguimos mitigar o sofrimento e o isolamento. Como bem sabemos, e por vezes ignoramos, o ego inflamado pode conduzir-nos às nuvens, mas quando fica dorido, também pode arrastar-nos para a escuridão.

 

É um mito considerarmos que o suicídio é um "acto de cobardia ou de coragem". A fim de esclarecer melhor esta questão, podemos fazer esta analogia; decidir matar outra pessoa só por não gostarmos dela nunca será considerado um acto de coragem ou cobardia. Podemos aplicar a mesma logica ao suicídio; fazer mal a nós mesmo, quando nos sentimentos angustiados e deprimidos, também nunca será um acto de cobardia ou coragem. Qualquer pessoa que pense no suicídio estará naquele período de tempo, a viver uma vida atormentada e em sofrimento atroz. Para todos os efeitos, está doente e debilitada. Como é que gerimos os nossos sentimentos quando nos sentimos impotentes perante a angústia e o tormento? Quando sentimos que estamos sós e rejeitados?

 

“Não tome decisões permanentes, sobre sentimentos temporários.”

 

Apesar do sofrimento e da dor temporária; é possível recuperar da adicção, um dia de cada vez.

Saiba mais sobre a dor e o suicidio SOS Voz Amiga. Você não está sozinho/a

 

Dr William D. Silkworth

 Dr. William Duncan Silkworth (1873-1951)

 

27 de Julho de 1938 - O Dr. Silkworth escreve um artigo que é publicado no livro "Big Book", dos Alcoolicos Anónimos,intitulado “A Opinião do Médico" 

 

"Especializei-me no tratamento do alcoolismo durante muitos anos. 

No inicio dos anos 30, tratei um paciente que, apesar de ter sido um homem de negócios competente, com muita capacidade para ganhar dinheiro, era um alcoólico de um tipo que eu tinha chegado a considerar irrecuperável.

Durante o seu terceiro tratamento adquiriu determinadas ideias sobre um possível programa de recuperação. Como parte da sua reabilitação, começou a dar a conhecer os conceitos do seu programa de recuperação a outros alcoólicos, incutindo neles a necessidade de fazer o mesmo com os outros. Este conceito veio a tornar-se a base de uma associação formada por alcoólicos em recuperação e pelas suas famílias em rápido crescimento. Tudo leva a crer que este homem e mais uma centena se recuperaram .

Pessoalmente, conheço também um numero de casos idênticos em que outras abordagens diferentes falharam por completo.

Estes factos parecem ter a maior importância médica, e devido às extraordinárias possibilidades de rápido crescimento inerentes a este grupo, eles podem vir a assinalar uma nova abordagem nos anais do tratamento do alcoolismo. É bem possível que estes homens tenham um solução para milhares de casos de pessoas com problemas com o álcool.

Pode confiar-se inteiramente em tudo aquilo que partilhem a respeito de si próprios.

Atenciosamente, 

William D. Silworth"

 

Comentário: No passado dia 27 de Julho de 2014 celebrou-se setenta e seis anos (76) após a publicação da carta do Dr. Silkworth. Podemos constatar que a sua visão sobre "(...) estes homens..." veio revelar-se uma realidade inquestionável, não só nos EUA, mas em todo o mundo, incluindo Portugal. Faço votos que mais profissionais da saúde, em Portugal, possam também ter uma visão semelhante sobre o tratamento do alcoolismo visto ainda existirem imensos mitos, estigma e falsos preconceitos sobre o programa de recuperação dos Alcoólicos Anónimos.  

RIP, Dr Silkworth.

 

O jogo problemático é um problema de saúde publica

 

Este artigo foi publicado no Jornal de Negócios (17 de Fevereiro de 2014)e está disponível só para assinantes online , nesse sentido, disponibilizo-o para si que é seguidor do blogue Recuperar das dependencias.

 

Jornal de Negócios: Nos últimos anos, o volume de jogos de fortuna e azar e apostas desportivas foram aumentando quer em locais físicos, mas como através da Internet. Esse crescimento foi acompanhado pelo registo de incremento de pessoas com adicção de jogo?

O incremento de pessoas com adicção ao jogo e o jogo patológico, através da internet tem sido exponencial. Por exemplo, no final dos anos 90 a maioria dos indivíduos adictos ao jogo, em casinos, eram adultos na casa dos 40 e dos 50 anos. Hoje em dia através do acesso online, chegam às consultas indivíduos com problemas associados ao jogo com idades entre os 24 e os 30 anos. Todavia, isso não quer dizer que todos sejam adictos ao jogo, isto é, alguns são indivíduos com problemas associados ao jogo que varia entre moderado e grave. Na sua pergunta refere adicção, nesse sentido, importa saber o que é a adicção. A adicção afecta a saúde do indivíduo, os vínculos familiares, incluindo das crianças, o desempenho profissional e a qualidade de vida. Ser adicto não é uma escolha pessoal. Ao longo de vinte anos de experiência profissional, na área da adicção, nunca ouvi nenhum individuo afirmar que escolheu ser adicto. Não é um acto voluntario, o individuo perde o controlo, a compulsividade, o craving (desejo intenso e irracional pela actividade) e continuação do comportamento apesar das consequências negativas. A Sociedade Americana da Medicina da Adicção define a adicção como uma doença primária, crónica que interfere e afecta o sistema/estrutura do cérebro responsável pelo prazer e recompensa, pela motivação e memoria e os circuitos neuronais adjacentes. Sabemos que uma alteração e disfunção destes circuitos neuronais conduzem ao aparecimento de sintomas a nível biológico, psicológico, social e espiritual no indivíduo, que se reflectem na busca e recompensa patológica do prazer. Por outras palavras, a adicção funciona como uma “almofada” perante determinadas situações e adversidades ao longo da vida do indivíduo. Este fenómeno repete-se com a adicção às substâncias psicoactivas lícitas, incluindo o álcool, as ilícitas, vulgo drogas, com o jogo, o sexo, as compras, o furto. A fim de ficar esclarecido existe um critério que identifica o jogo problemático (moderado a severo) e um critério para a adicção (doença primária e crónica). A adicção não é um vírus.  

Segundo estudos (American Medical Association, EUA, 2000) existem factores genéticos em comum entre os indivíduos jogadores patológicos do sexo masculino e o álcool. Todavia, também gostaria de referir que nas últimas duas décadas, com os avanços tecnológicos e a investigação, principalmente nos EUA e Canadá, ainda estamos a aprender sobre o que é a adicção; as causas, a identificar aqueles indivíduos mais vulneráveis e os tratamentos disponíveis mais adequados.

 

Jornal de Negócios: É possível traçar o perfil do jogador compulsivo?

Segundo uma investigação no Canadá, os indivíduos com problemas associados ao jogo compulsivo (patológico) apresentam quatro vezes mais probabilidades de serem diagnosticados com doença mental, relacionado com perturbação do humor e ansiedade, do que os indivíduos não jogadores. A actividade associada ao jogo começam na adolescência, com mais prevalência no sexo masculino do que no sexo feminino.

Na minha experiencia profissional o perfil do individuo jogador compulsivo oscila entre os 24 e os 56 anos. Sexo masculino, classe media/alta, licenciados com carreiras profissionais estáveis, trabalham em excesso, têm dívidas, gostam de quebrar regras e correr riscos, são impulsivos e egocêntricos. Acreditam que o dinheiro é a causa e/ou a solução para os seus problemas. Alguns deles afirmam, em situações de desespero, ideações e tentativas de suicídio. Alguns destes indivíduos são oriundos de famílias desestruturadas com problemas de álcool, jogo e violência doméstica.    

 

 

 

A adicção não é um vírus

A recuperação da adicção é um processo para o resto da vida.

Após as noticias recentes sobre o falecimento do actor de Hollywood,  Philipe Seymour Hoffman vítima de overdose de drogas ilícitas, intoxicação que ocorre quando  o individuo consome uma determinada quantidade de droga que os sistemas vitais do organismo são impedidos de funcionar adequadamente,   veio levantar a questão sobre a importância da abstinência, da recuperação da adicção e da recaída. 

 

Philipe Seymour Hoffman permaneceu abstinente durante 23 anos consecutivos. Se o actor faleceu aos 47 anos, fazendo as contas, parece ter iniciado a recuperação com 24 anos. Iniciar a recuperação com esta idade, por si só é um feito extraordinário, mas por outro lado, revela, desde cedo e ao longo do seu desenvolvimento, um individuo vulnerável (predisposição) aos efeitos e consequências da dependência de substâncias psicoactivas, do Sistema Nervoso Central, após duas décadas abstinente, paradoxalmente, recaiu e acabou por morrer de overdose. Não faleceu de cancro ou de doença cardíaca, mas vítima da adicção.

 

Já em meados de 2013, segundos os media norte americanos, Philipe S. Hoffman deu entrada num centro de tratamento para uma desintoxicação, durante dez dias, depois de ter recaído em heroína. Após ter completado o programa de desintoxicação, aparentemente parece ter voltado a frequentar as reuniões de Alcoólicos Anónimos (AA), note-se, já o fazia desde os 24 anos de idade, até 2014. Uma semana antes de morrer, foi à sua última reunião.

 

Este incidente, adquiriu um destaque mediático visto Philipe S. Hoffman, ser um actor galardoado com vários prémios, todavia, gostaria de transpor este caso para o cenário da dependência de drogas, da recuperação e da recaída em Portugal. Existem historias semelhantes de indivíduos adictos, em Portugal, que também permanecem períodos consideráveis abstinentes, em recuperação, mas que acabam, por um conjunto de motivos, reiniciar os consumos de substâncias psicoactivas, incluindo o álcool.

Como profissionais, quando nos deparamos com um individuo adicto a substâncias psicoactivas, vulgo drogas, devemos considerar a abstinência uma meta prioritária? A minha resposta é sim. Um individuo com um historial significativo de dependência (adicção) precisa de ajuda e recursos, a fim de repensar, sobre o seu estilo de vida e as drogas.

 

De acordo com a minha experiencia profissional, visto ainda não existirem estudos em Portugal sobre o tratamento, a recaída e a recuperação da adicção às drogas, o primeiro ano de abstinência é um período crucial, mas ao mesmo tempo critico para o individuo. A adicção às drogas lícitas, incluindo o álcool, e as ilícitas, interferem e comprometem o funcionamento e o desenvolvimento normal do cérebro – estruturas associadas ao prazer e recompensa, assim como a motivação, a memória e a capacidade de tomar decisões. A adicção, conforme vai evoluindo, gradualmente vai incapacitando o individuo de sentir, pensar (défices cognitivos) e tomar decisões saudáveis, ao mesmo tempo, vai deteriorando os vínculos entre as pessoas significativas; perda do controlo, síndrome da abstinência, problemas familiares e profissionais, tolerância às drogas, impotência associado ao sentimento de culpa e a vergonha, a negação e o estigma. Na perspectiva de um individuo adicto, a abstinência total de drogas é interpretada como uma privação radical, com custos psicológicos e sociais consideráveis, porque as substâncias psicoactivas, apesar das consequências negativas funcionam como uma almofada, um amortecedor, um «remédio» e representava um estilo de vida.

Generalizando, o consumo do álcool é encorajado na nossa cultura, somos seres sociais que utilizamos as bebidas alcoólicas com o intuito de «olear» a comunicação. Como profissionais, este tipo de paradigma poderá influenciar a nossa abordagem. Um individuo adicto fica incapaz de adoptar comportamentos saudáveis se consumir drogas, incluindo o álcool. Com muita frequência, escuto este tipo de comentários, entre indivíduos adictos em tratamento das drogas: «Abstinência total? O quê? Nunca mais vou usar drogas? Beber álcool? No verão… ao jantar entre amigos e beber um copo… fumar um charro de vez em quando?»  

 

Um individuo adicto, mesmo em recuperação por longos períodos, não consegue erradicar das suas memórias as sensações e experiencias intensas de bem-estar e alivio que as drogas proporcionaram. Este estilo de vida, centrado nos efeitos das drogas, funcionava como um excelente antidoto de forma a gerir sentimentos desconfortáveis associados ao stress/tensão, ao tédio, à frustração originando uma sensação de despropósito em relação ao rumo da sua vida. A dependência psicológica das substâncias, não desaparece só porque o corpo está livre de drogas – lógica adictiva, exacerbado pelas características da personalidade. Costumo afirmar que viver dependente de drogas é uma ocupação, idêntica ao um emprego, que consome imenso tempo e energia, 24/24 horas, 7 dias por semana e 365 dias por ano. É o assunto mais importante e central na vida do individuo, mais importante até que a própria família, incluindo as crianças, a saúde, a carreira profissional, etc, etc.

Quais são os motivos que levam um individuo abstinente e em recuperação, durante 23 anos, a reiniciar o consumo?

 

 

"Ser vulnerável é apenas uma das características"

Tudo começou com a sensação de que o barco andava sem rumo, corria sempre mal, os erros eram sempre os mesmos, e de repente, percebi que não existia o “mundo está contra mim” e sim o “é necessário aprender a estar no mundo”. A vontade de mudar falou mais alto e fervilhou dentro de mim. Preciso de ajuda… Foram inúmeras as tentativas de relações de intimidade, no entanto, eram sempre voláteis, rápidas e quando estava aparentemente a ser bom (controlado por mim) acabavam por terminar. Chegava à conclusão que afinal não tinha sido tão bom, era a minha vontade que fosse bom que sustentava a relação. Aí o mundo desabava, mais uma vez. Quando olhava pela janela via apenas o que sentia nos relacionamentos amorosos, não existia mais nada ou quase nada. Percebi que o limiar entre a sanidade e a patologia era curto, procurei ajuda, comecei por conhecer mais sobre mim e aceitar. A palavra resiliência passou a fazer parte do meu vocabulário. Sentir é ok, saber gerir é uma grande sabedoria, alguém disse que a vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Ou seja, aprender com os erros, conhecer e viver…sem nunca esquecer que a vida é feita de opções e nós somos a personagem principal. As escolhas são nossas. Ainda a caminhar na minha jornada de recuperação, estou menos angustiada, aprendi a gerir o sentimento de ambivalência e a tomada de decisão passou a ser uma plataforma mais segura. Resumindo, hoje olho pela janela e observo interações, nuns dias observo pessoas a circular na rua, noutros as árvores que estão ao lado das pessoas, é sempre diferente. Mas, vejo e sinto mais coisas. Sou mais feliz e vivo um dia de cada vez, recuperar é que está a dar.

S.

 

 

 

Recuperar das compras compulsivas

As compras compulsivas são um problema actual menosprezado.

Todos os dias fazemos compras. Todos os dias, por variadíssimas razões e motivos gastamos dinheiro. Gastamos dinheiro porque estamos tristes ou porque estamos felizes. Gastar dinheiro faz parte do dia-a-dia, do ser social, da auto estima e isso é OK.

 

Entretanto, existe outra realidade, sobre o gastar dinheiro, que tem sido negligenciada. Somos bombardeados por um número indeterminado de estímulos para fazer compras, onde para isso,  necessitamos de recorrer a estratégias altamente engenhosas para equilibrar os nossos orçamentos. Perante tanta oferta, facilmente nos iludimos com o “Preciso de comprar aquilo…” quando na realidade, “aquilo” não é uma prioridade, mas uma necessidade de satisfazer os nossos desejos e vontades com base no prazer imediato. Basta entrarmos no centro comercial e ao fim de 15 minutos, já dispomos de uma lista de coisas que precisamos de preciso comprar. Sentimo-nos bem a gastar dinheiro. Todos nós estamos sujeitos a este fenómeno, todavia gastar dinheiro compulsivamente, comportamento adictivo, está associado a uma fonte intensa de prazer e bem-estar com consequências negativas (problemas familiares, incluindo as crianças, stress, dividas, créditos,) efeito semelhante ao individuo que abusa de substâncias psicoactivas, vulgo drogas.

 

Estamos prestes a iniciar a época natalícia, segundo a tradição, é uma das alturas do ano que mais se gasta dinheiro. O Natal é um período crítico de risco que justifica os exageros e os excessos em relação às compras compulsivas. Por exemplo, no final de Janeiro do ano seguinte, os extractos da conta bancaria são reveladores da perda do controlo, muitas vezes fonte de discórdia e conflito entre o casal.