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Recuperar das Dependências (Adicção)

Contra o estigma, a negação e a vergonha associados aos comportamentos adictivos. O silêncio não é seguramente a melhor opção para a recuperação; ninguém recupera sozinho.

Recuperar das Dependências (Adicção)

Contra o estigma, a negação e a vergonha associados aos comportamentos adictivos. O silêncio não é seguramente a melhor opção para a recuperação; ninguém recupera sozinho.

Recompensas e arriscar

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Quem procura grandes recompensas opta  por correr riscos elevados

 

«Amor Próprio» por Renata Ramos

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Recebi diretamente da autora, seguidora do blogue, o livro Amor Próprio que aproveito para divulgar. Conta a história de resiliência, onde a Renata relata a sua experiência com a dependência de drogas e não só, a recuperação; a busca por um estilo de vida mais recompensador, livre de drogas e que a sua experiência possa servir de exemplo para alguém que esteja dependente e que procure um caminho para o amor próprio. A Renata, no seu livro, deixa uma mensagem de esperança; é possível recuperar da dependência.  Gostaria de agradecer à autora a menção à minha pessoa no livro.

 

Se você deseja conhecer a história e adquirir um exemplar pode contactar com a autora através do Whatsapp 31 620378714 Holanda ou encomendar o Livro no amazon Amor Próprio, por Renata Ramos.

Sinais dos tempos - a adicção aos videojogos.

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Desde os tempos mais remotos, o ser humano precisou de se alienar, de negar a realidade e adapta-la à sua vontade, de entrar em contacto com algo que o transcenda, precisou de “amortecedores” e “filtros” para se relacionar consigo próprio e os outros. Há vinte anos atrás, em Portugal, as adicções mais conhecidas eram as dependências de drogas ilícitas, vulgo toxicodependência (termo em desuso), o alcoolismo e numa escala mais reduzida o Jogo patológico a dinheiro nos casinos. Na ultima década, as “velhas” adicções mantêm-se inalteráveis, com algumas mudanças (novas substancias psicoactivas ilícitas foram descobertas) e surgem as novas doenças do comportamento adictivo relacionados com a Internet (redes sociais, os videojogos e o jogo patológico online a dinheiro). Mais recentemente, surgiram noticias nos meios de comunicação social de que a Organização Mundial de Saúde decidiu que a adicção aos videojogos (comportamentos adictivos) será incluída na revisão da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde, previsto para 2018 cuja sigla é conhecida como CID. Significa que, brevemente, todos nós iremos ter acesso aos critérios de diagnostico da doença e a respetiva legislação. Costumo dizer que jogar está no nosso ADN: quem é que não gosta de jogar? Quem é que joga para perder? Talvez por isso os vídeos jogos sejam uma indústria milionária que gera milhões de euros em todo o mundo.

 

 

Evidência cientifica sobre a doença da adicção.

 Graças aos avanços da ciência, e de alguns profissionais dedicados, como a Dra. Nora Volkow, é possível compreender a natureza da adicção às drogas, lícitas e/ou ilícitas. Nesse sentido, estaremos mais dispostos a desenvolver competências e recursos que nos permitam tratar pessoas com dignidade e esperança. Veja o video  

«Uma vez não chega e mil não são suficientes»

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Olá sou o Raul (nome fictício). Reconheci que tenho um problema com o sexo quando senti que não conseguia parar. Coloquei o meu emprego em risco ao desaparecer do trabalho para ir à prostituição ou engate e de estar dias inteiros no trabalho a obcecar com quem seria o próximo parceiro, através dos encontros prévios que tinha tido em chats, para fazer sexo. Não haver limite nas relações que desenvolvia com colegas de trabalho que podiam levar ao despedimento. Era viciado no flirt, nos orgasmos sucessivos, na adrenalina de fazer sexo em locais públicos e em forçar a minha mulher a fazer sexo comigo. Parecia que tinha mais prazer quando ela não queria. De ter relações sexuais (para não falar nas milhares de vezes que pratiquei sexo oral) sem preservativo. Actualmente tenho a certeza que o meu vício me colocou na prateleira na empresa em que trabalho e impediu de constituir uma família. Entretanto tenho três filhos fruto de uma relação de codependência com uma mulher. O meu futuro não sei qual vai ser, só sei que não quero voltar para o inferno em que vivia.

 

Tenho um problema em criar intimidade nas minhas relações. Teve a ver com a ausência de afecto na infância que me levou a buscar sexo para me alienar da minha infelicidade e a usar pessoas na cama como uma droga. E tal como dizem nas reuniões de Narcóticos Anónimos1 " UMA VEZ NÃO CHEGA E MIL NÃO SÃO SUFICIENTES ". Sou bissexual, todas as semanas dizia para mim mesmo que ia parar de agir nos comportamentos compulsivos, mas acabava por ter inúmeros parceiros sexuais. Apanhei algumas doenças venéreas, de fácil tratamento, mas foi mera sorte não ter apanhado VIH, SIDA ou Hepatite C.

 

A pornografia é também um vício que serve de "trampolim" para a compulsão. Através da pornografia é possível uma ligação a um mundo virtual, sem medo de doenças, fantasiando com todos os corpos que a minha cabeça pede. Ao longo dos anos tirou-me a capacidade de desfrutar dos engates, passei a comparar os corpos dos actores no ecrã/monitor com os que encontrava na vida real. Desenvolvi um mecanismo, idêntico ao caçador durante a caça, onde busco uma “presa” entre as pessoas que se cruzam na rua comigo para um possível engate. Essa caça, mais do que o sexo em si, constituía um factor principal do vício.

 

Quando cheguei ao programa do Adictos ao Amor e Sexo  Anónimos (AASA)2 achava que era somente viciado em sexo, mas descobri que muitas das relações heterossexuais mais estáveis que tinha tido eram típicas de um viciado em amor. Começo por fantasiar, achando que essa pessoa me vai curar, para depois, rapidamente a perseguir pelos defeitos que encontro nela. Ao longo destes cinco anos que estou em AASA apercebo-me que tenho medo de desenvolver relacionamentos de intimidade por falta de auto estima .  As pessoas, com as quais mantenho uma relação, coloco-as num pedestal ou são lixo. Quando os meus relacionamentos hetero fraquejam rapidamente recorro as fugas sexuais para apagar a dor. Foi falando com os meus companheiros de luta nas reuniões de 12 passos que fui entrando no espirito da «HONESTIDADE, BOA VONTADE E MENTE ABERTA» meditando sobre situações da minha vida que me causavam dor. Muitas situações ficaram aliviadas, pois dei-me conta que não estava a ter honestidade, nem boa vontade , nem mente aberta. Detestei o meu “padrinho” quando me dizia isso, mas pouco a pouco fui-me libertando das camadas de desonestidade. É como descascar uma cebola (com muitas camadas).

 

 

Recuperação da adicção; podemos optar pela esperança

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O evidente estava mesmo à minha frente. Os meus olhos viam, o meu coração negava, era demasiado duro, demasiado vergonhoso e humilhante. Eu esforçara-me tanto para uma boa educação e instrução.Tinha posto regras durante o crescimento... e depois o meu marido sempre a ameaçar que os punha na rua, mas porquê? O que é que eles têm?! Nenhum de nós se atrevia a pronunciar sequer a palavra, delinquentes. Os nossos filhos eram a escória da sociedade, o mundo caiu em cima dos meus ombros, a dor foi tão forte, tão forte que jamais a esquecerei. Começou então a corrida desenfreada aos médicos, medicamentos, desregras, ameaças, perdões, escassos sucessos e maiores afundamentos. As horas passadas à janela e o alívio ao vê-los ao fundo da rua, vivos e logo de seguida a raiva a desilusão das promessas não cumpridas e o medo o medo de tudo o que poderia acontecer.

Lembro-me que pedi ferverosamente ajuda a Deus. Já não sei eu não quero… que eles morram… só Tu me podes ajudar e... no dia seguinte encontrei Famílias Anónimas (FA)[i]. Não foi fácil, ainda não o é, mas encontrei identificação nas partilhas de quem como eu amava e sofria. Também aprendi que a delinquência não era mais que a doença da adição a drogas e álcool. Afinal não eram escória eram doentes, uma doença que os poderia levar ao hospital, à cadeia e o pior, que eu nem queria pensar, a uma cova sem regresso. Uma doença que só eles poderiam travar, e que eu que tantos os amava teria de aprender a amá-los melhor. Aprendi a viver um dia de cada vez, às vezes uma hora ou uns minutos, a viver e deixar viver, a não controlar e manipular. Eu era ainda mais manipuladora que os meus entes queridos, a dar-lhes a dignidade de sofrerem ou exultarem com as suas decisões, foi tão difícil, mas eu tinha o telefone e do outro lado sempre uma voz amiga para falar.

Já lá vão algumas 24 horas, mas para mim faz parte da recuperação. Eu sinto, será um trabalho de eu com o meu eu, até ao fim. Foi através deste progama de 12 passos[ii], que eles acabaram por encontrar o caminho da recuperação e eu encontrei o milagre da união da família, do sorriso, da felicidade que pensei nunca mais voltar a ter.

Gratidão sem limites é o sentimento que nutro por FA

Um abraço

Suzete  

 

[i] As Famílias Anónimas são um grupo de ajuda mútua que utilizam o conceito dos 12 Passos na recuperação dos relacionamentos dependentes. Estes grupos, são oriundos dos EUA (primeiro grupo fundado no final dos anos 50), existem em Portugal desde meados dos anos 80. Estes grupos, de homens e mulheres, são considerados uma referência internacional na recuperação (novos estilos de vida) da adicção.

[ii] 12 Passos são a filosofia que sustenta o programa de recuperação individual, de doze etapas, através dos grupos de ajuda mútua (ex. Alcoólicos Anónimos, Narcóticos Anónimos, Família Anónimos, etc.).

 

Comentário: Bem haja à Suzete pela sua participação no blogue através da sua experiencia, honestidade e recuperação. A adicção afecta significativamente as dinâmicas familiares através do ressentimento, da vergonha, da raiva, sentimento de culpa e do medo, todos são afectados, incluindo as crianças. Nesse sentido, é importante quebrar o estigma, a negação e a vergonha associados aos comportamentos adictivos. Recuperar é que está a dar.

 

Estrutura do cerebro associada à recompensa/prazer e a adicção

 

 

O abuso de drogas, substâncias psicoactivas, do Sistema Nervoso Central, licitas e/ou ilícitas podem comprometer o funcionamento normal do cérebro (estruturas do cerebro responsáveis pela recompensa/prazer) contribuindo assim para a adicção/dependência - doença .
Alguns sintomas. 

  • Síndrome da abstinência, vulgo ressaca.
  • Tolerância à substancia psicoactiva, aumenta a frequência, a dose e o consumo (abuso), vulgo prazer imediato e oscilação dos sentimentos.
  • Continuar a usar drogas apesar das consequências negativas, vulgo perda do controlo.
  • De acordo com recentes estudos, as mesmas estruturas cerebrais associadas à recompensa/prazer também estão relacionadas com outros comportamentos adictivos, tais como o sexo, compras, o jogo, os relacionamentos e o disturbio alimentar. 
  • veja o video

REEL Recovery Highlight 2013



Recuperar é que está a dar. Apesar da complexidade da doença da adicção é possivel recuperar. Se identifica um problema na sua vida, relacionado com drogas lícitas (alcool ou benzodiazepinas) ou ilícitas, você não está sozinho/a.

Robin Williams- Homenagem ao actor e ao homem que lutou contra a adicção.

Algumas frases famosas do actor

  • "A cocaína é a forma de Deus nos dizer que estamos a ganhar demasiado dinheiro.”
  • Pensava que a pior coisa era acabar sozinho. Não é. É acabar junto de pessoas que te fazem sentir só.”
  • “Não importa o que as pessoas te dizem, palavras e ideias podem mudar o mundo.”
  • Nunca lute com uma pessoa feia, pois ela não tem nada a perder.”
  • “Só tens direito a uma pequena dose de loucura, não deves desperdiçá-la.”
  • “Deus deu aos homens um pénis e um cérebro, mas infelizmente não lhes deu a capacidade de utilizar os dois ao mesmo tempo.”
  • “Sabe qual é a diferença entre um tornado e um divórcio? Nenhuma, em ambos os casos alguém está perdendo a casa.”

Soube da sua morte na passada segunda-feira. Fiquei em choque, sem palavras, e com imensas questões na minha cabeça, para as quais, ao longo da semana, procurei as respostas. Porquê? Como é possível?

O suicido é uma realidade cruel. Somos seres complexos e multitalentosos, quer na busca da realização pessoal, como na busca de soluções imediatas e irracionais para a dor, o sofrimento, o desespero e a solidão. É um paradoxo com o qual precisamos de viver, e por ultimo aceitar, o melhor possível.

 

Como não podia deixar de ser, e apesar de tanto se ter falado e escrito durante esta semana, tenho que prestar homenagem ao actor e ao homem que lutou, com todas as suas forças, contra a doença mental e a adicção e acabou por falecer de uma forma abrupta. Como adepto do cinema que sou, desde muito cedo, Robin Williams, foi dos actores que mais ajudou a compreender e a identificar, através dos seus mais variados papeis, a importância da sensibilidade, do sentido da humanidade, do sentido de humor, da paixão, do altruísmo, do sonho e da alegria, da irreverência contra o preconceito e o estereótipo, da coragem, etc. Os adjectivos que classificam este artista não têm fim, era uma força da natureza genial, tal como a grande maioria dos adictos que conheço. Por varias ocasiões, Robin veio publicamente, assumir a sua dependência de substâncias psicoactivas, vulgo drogas, (cocaína e alcoolismo) e reafirmar a esperança na recuperação, contra o estigma, a negação e a vergonha. Robin era actor, um marido, um pai e um membro activo da sociedade prestando apoio em várias causas socais

 

Para terminar a minha homenagem, gostaria de reforçar que é um mito considerarmos que o suicídio é um acto de coragem. Não tem nada a ver com coragem. É um acto de alguém que está angustiado, só e desesperado, e naquele momento de sofrimento intenso, mas efémero, contempla o suicídio, como a solução definitiva para o desespero. Ironicamente, o seu último filme, com o título “Aproveita a vida” é sobre um homem decepcionado. O homem morre, mas a sua genialidade, permanecerá presente, na memória colectiva, para a eternidade. Os adictos são pessoas, de extremos, ora apaixonadas ora decepcionadas, porque procuram viver intensamente, por vezes, demasiadamente; é tudo muito.

 

 

RIP, Robin ( 1951-2014). As minhas condolências para a família que irá viver com esta tragedia, contra a sua vontade, para o resto das suas vidas.