Contra o estigma, a negação e a vergonha associados aos comportamentos adictivos. O silêncio não é seguramente a melhor opção para a recuperação; ninguém recupera sozinho.
Contra o estigma, a negação e a vergonha associados aos comportamentos adictivos. O silêncio não é seguramente a melhor opção para a recuperação; ninguém recupera sozinho.
O abuso de drogas, substâncias psicoactivas, do Sistema Nervoso Central, licitas e/ou ilícitas podem comprometer o funcionamento normal do cérebro (estruturas do cerebro responsáveis pela recompensa/prazer) contribuindo assim para a adicção/dependência - doença . Alguns sintomas.
Síndrome da abstinência, vulgo ressaca.
Tolerância à substancia psicoactiva, aumenta a frequência, a dose e o consumo (abuso), vulgo prazer imediato e oscilação dos sentimentos.
Continuar a usar drogas apesar das consequências negativas, vulgo perda do controlo.
De acordo com recentes estudos, as mesmas estruturas cerebrais associadas à recompensa/prazer também estão relacionadas com outros comportamentos adictivos, tais como o sexo, compras, o jogo, os relacionamentos e o disturbio alimentar.
Apresento alguns excertos das pessoas, que diariamente procuram a motivação necessária, a fim de recuperarem a dignidade, a estima e a esperança num mundo em constante mudança. Todos nós, estamos expostos e vulneráveis às mais diversas condições adversas e ao invés de ser a adversidade a definir o rumo das nossas vidas, pelo contrário, somos nós seres fantásticos e resilientes que decidimos romper com aquilo que nos prende à dor e ao sofrimento.
No aconselhamento, as pessoas são o mais importante: os seus falhanços são os meus falhanços e os seus sucessos também são os meus sucessos. Ambos partilhamos esta aventura, porque o aconselhamento só é eficiente se o/a terapeuta e o cliente estiverem em sintonia, na relação terapêutica de confiança, com o mesmo propósito - recuperação.
Importante: Todos os dados foram alterados de forma a proteger a identidade das pessoas e qualquer semelhança é pura coincidência.
- Durante a consulta com a Natália, 39 anos (nome fictício – dependência emocional), abordamos a questão da intimidade nos relacionamentos românticos de compromisso: a química do amor (êxtase e o desassossego, vulgo paixão) e o amor duradouro (intimidade e o compromisso). Ela afirmava, com legitimidade, que a fim de manter o relacionamento duradouro é necessário haver entre os parceiros tempo para amar, sem este tempo a relação pode deteriorar-se.
Nota: Sabia que a novidade e o inesperado, por exemplo, quebrar a rotina e fazer coisas fora do comum, mantêm o amor duradouro. Não me estou a referir à paixão
- Durante a consulta com o Daniel, 25 anos (nome fictício – problemas com o Jogo), abordamos alguns factores que contribuem para o jogo compulsivo; 1. Jogar (curiosidade, correr riscos e o perigo inerente das apostas). 2. Gestão de sentimentos desconfortáveis, quebrar o tédio, a ansiedade e o aborrecimento 3. Recompensa (prazer intenso) e oscilações bruscas do humor.
Nota: Sabia que ganhar dinheiro não é o mais importante? O mais importante é jogar e apostar.
- Durante a consulta com a Anita, 38 anos (nome fictício – problemas com o álcool) e os seus pais abordamos os problemas associados ao álcool e o estigma social. A vergonha de expor o problema e pedir ajuda é tão doloroso que optaram por negar as evidências e as consequências negativas. Durante 10 anos não se falou sobre o assunto, inclusive, com outros membros da família. Afirmaram "Sentíamos que ninguém nos compreendia, pelo contrário, conscientemente, optamos pelo silêncio e pelo isolamento."
Nota: Sabia que o álcool é uma droga e que o alcoolismo é um problema de saúde publica?
Quem é gosta de ser confrontado? Ninguém gosta de ser contrariado. Por exemplo, quando alguém é confrontado devido à descoberta de uma mentira ou erro que tenha cometido, qual é a primeira reacção? Negar a realidade. Apesar de haver algumas diferenças, nos comportamentos adictivos o fenómeno é semelhante, um individuo adicto que seja confrontado, pelas consequências negativas da sua adicção, irá responder de uma forma defensiva, esquiva ou omissa. Irá negar qualquer evidência, facto ou realidade.
Irei expor aquelas que são as 10 desculpas mais frequentes identificadas no discurso de indivíduos adictos quando são confrontados e/ou convidados a falar abertamente sobre as consequências da adicção. Gostaria de acrescentar que estas desculpas, mecanismo psicológico de defesa (lógica aditiva), são observadas em vários tipos diferentes de adicção (substâncias psicoactivas lícitas, incluindo o álcool, e as ilícitas, jogo, sexo, compras, dependência emocional, distúrbio alimentar). Gostaria de acrescentar o seguinte, este tipo de discurso também é identificado em alguns membros da família do individuo adicto.~
Nº 1 – “Não tenho nenhum problema com o meu comportamento.”
Esta é das afirmações mais comuns e aquela que considero a mais frequente. O individuo adicto não reconhece e ou admite qualquer problema e/ou consequências negativas da adicção. Nesta fase o individuo avalia os efeitos obtidos através das substâncias e/ou comportamentos, como algo positivo e inócuo, contribuem como um reforço da lógica para continuar os mesmos comportamentos; “Se está tudo bem porque é que hei-de parar?”
Nº2 – “O meu problema não é assim tão grave, o dos outros é pior. Eu sou diferente e posso parar quando quiser”
Apesar das crises em casa, no trabalho, na saúde (doença) e acidentes o individuo adicto continua a afirmar que consegue parar, e por vezes, é tão categórico nas suas convicções que é capaz de arranjar argumentos que convencem e confundem a esposa/o, as crianças, a família, o patrão/colegas; o individuo também acredita nas suas afirmações. Alguns membros de família afirmam “João Alexandre, ele/a dizia que ia parar, e fazia promessas. As nossas discussões eram de tal angustiantes que eu (mãe, pai, esposa, patrão) algumas vezes achei que estava a ser injusta e cruel para com ele/a. Nos últimos tempos, praticamente ele fez dezenas de promessas, que eu acreditava nas suas palavras, mas na realidade, ele não conseguia cumprir. Cheguei a pensar que estava a ficar doida e a questionar a minha própria sanidade. ”
50 Razões pela qual você deve interromper a progressão dos comportamentos adictivos:
Drogas lícitas, incluindo o álcool, e/ou ilícitas,
Dependência emocional,
Distúrbio alimentar,
Sexo,
Jogo,
Compras,
Furto.
Quebra o silêncio e o isolamento. Deixa de ter vida dupla, sem segredos e mentiras relacionados com a adicção.
Assume o controlo da sua vida quebrando a negação, o estigma e a vergonha associados aos comportamentos adictivos.
Aprende que a adicção é uma doença; não é uma fraqueza e não é um ato voluntario.
Você participa na solução do problema, em vez de contribuir para o agravamento dos sintomas da adicção.
Deixa de ser a “ovelha negra” da família e o centro dos problemas – “bode expiatório.”
Interrompe a compulsão, da dependência de substâncias psicoativas lícitas, incluindo o álcool, e as ilícitas, através da abstinência.
Programa de recuperação; plano e objetivos específicos de vida.
Ao pedir ajuda profissional não está sozinho/a; quebra a solidão e a vergonha.
Aprende a lidar, de uma forma construtiva, com os sentimentos dolorosos; raiva, dor, medo, ressentimento, vergonha e culpa.
Adquire autonomia, mestria e propósito no rumo da vida.
Relação saudável com colegas e empresa: faz parte da equipa; em vez de fazer parte dos problemas.
Melhora a saúde física e mental.
Faz mudanças significativas na sua vida: atitudes e comportamentos – você é o agente da mudança.
Gestão construtiva dos recursos financeiros; poupanças, investimentos, etc.
Melhora a performance e produtividade no trabalho ou faz mudanças na área profissional.
Melhora a qualidade da relação com os colegas de trabalho e/ou patrão.
“Deixa de cometer os mesmos erros à espera de resultados diferentes”.
Estabelece relacionamentos saudáveis e positivos com as outras pessoas.
Reconquista a dignidade e a auto estima afetada pelos comportamentos adictivos.
Liberdade de escolha e decisão no rumo da sua vida (sair da zona de conforto).
Faz planos realistas, cumpre e recompensa-se, em vez de fazer promessas infindáveis que não cumpre, que servem somente como álibi, desculpas e justificações.
Liberta-se da auto piedade e pára de culpar os outros e o mundo à sua volta; responsabilização e respeito.
Faz um serio investimento na sua vocação.
Desenvolve relacionamento de intimidade, honestidade e compromisso com o seu parceiro/a.
Desenvolve competências individuais e sociais; assertividade, gestão de emoções, estabelece limites, gere a impulsividade, gestão do stress, organiza atividades saudáveis (hobbies).
É devolvido/a à sanidade. Interrompe a logica adictiva (circulo de pensamentos que reforçam as crenças e padrões de comportamentos disfuncionais).
Melhora o relacionamento com a família, incluindo as crianças.
Vive um dia de cada vez.
Adia o prazer imediato. Define critérios saudaveis e prioridades, no dia-a-dia.
Aprende a sorrir, a divertir-se e a não se levar demasiado a sério.
Trabalha as competências da comunicação na gestão dos conflitos; é assertivo. Não é passivo/a ou agressivo/a ou manipulador/a.
Aprende que os ressentimentos do passado são fonte de aprendizagem em vez de serem fonte de descontentamento, remorso, ódio – ressentimentos de “estimação”.
Identifica os efeitos negativos do perfecionismo e cria uma lógica construtiva e mais realista de acordo com as suas limitações e talentos.
Desenvolve hábitos alimentares saudáveis e diversificados.
Integra os paradoxos no seu devir, alterando paradigmas disfuncionais; as pessoas não são perfeitas, sofremos desilusões, mas também desiludimos os outros.
Identifica as suas emoções e é honesto/a. Sentir é OK, não existem sentimentos certos e errados.
Identifica as áreas de risco de deslize/recaída e os fatores de proteção – abstinência/recuperação. A recuperação é uma prioridade na sua vida.
Desenvolve e promove uma relação espiritual com uma entidade/algo superior, sem dogmas e ou divindades: conceito individual e livre (espiritualidade).
Realiza alguns dos seus sonhos, todavia aprende a importância da persistência e da esperança; basta acreditar.
Adota comportamentos saudáveis que reforçam e promovem a sua sexualidade e o sexo, sem mitos, preconceitos ou tabus.
Desenvolve hábitos e comportamentos saudáveis com a alimentação, com o seu corpo e o seu peso.
Aprende a definir limites nos relacionamentos de intimidade: existe o amor saudável e/ou a dependência emocional, que não é amor.
Aprende a importância da genuinidade, da coerência, da integridade e da liberdade.
Desenvolve objetivos de vida auto motivacionais. Busca a motivação intrínseca.
Aprende que para se ser feliz é preciso sair da zona de conforto.
Elabora com regularidade o diário da Gratidão. Do que é que se sente grato/a?
Identifica padrões de comportamentos disfuncionais na gestão do stress crónico.
Identifica a diferença entre a vergonha saudável e a vergonha tóxica.
Desenvolve exercício físico e hábitos saudáveis de alimentação.
Você não é o único e não está sozinho/a.
Esta lista não tem fim… Recuperar é que está a dar
As necessidades das crianças são negligenciadas As crianças, cujos lares são afectados pela adicção, um dos pais ou ambos são adictos (drogas lícitas, incluindo o alcool, e/ou ilícitas, o jogo, distúrbio alimentar, sexo, trabalho, compras - shopaholics, furto - shoplifting, codependencia) são inseguras e carentes de afectos e “desligadas” das suas verdadeiras emoções – ex. abandono e inadequação.
Nos primeiros anos de vida, estas crianças apresentam problemas de comportamento em casa e na escola. No ensino primário surgem problemas de literacia (escrita e leitura). Durante a adolescência as dificuldades nos relacionamentos com os professores e/ou grupo de pares transformam a escola numa experiencia adversa que culmina com o insucesso escolar. Este tipo de experiências, sem a monitorização parental, pode desencadear atitudes e comportamentos que conduzem à delinquência juvenil.
As crianças quando expostas aos comportamentos adictivos podem ficar incapacitadas, a nível competências individuais e sociais, a fim de se realizarem como indivíduos, como consequência de ambientes familiares caóticos. Convém salientar que, na maioria dos casos, os comportamentos adictivos surgem associados (comorbildiade) a outros tipos de problemas de saúde mental; a ansiedade e/ou a depressão, também podemos acrescentar o isolamento social, problemas nos relacionamentos (ex. falta de intimidade e desconfiança) e a violência doméstica.
Obviamente, este tipo de comportamentos caóticos coloca toda a família numa enorme pressão que pode se perpetuar – paradoxalmente, é encarado algo normal e familiar (homeostase).
Os ciclos disfuncionais “escondidos” – segredos de geração em geração. Para uma grande parte dos pais que exibem comportamentos adictivos, também podem ter sido “vítimas” de adversidade durante a sua infância. São oriundos de um sistema familiar caótico. Estes pais podem ter ficado afectados psicologicamente e pouco preparados para proporcionar um ambiente familiar seguro, equilibrado e com afectos genuínos e saudáveis aos seus filhos. Infelizmente, existe a crença generalizada, associado ao estigma, de que é mais grave para uma criança ter um pai alcoólico ou drogado do que um pai apresente comportamentos adictivos em relação ao sexo ou trabalho - workaholism. É um mito porque na maiorias dos casos o desenvolvimento da criança é negligenciado pelos progenitores. Conheço crianças cujos pais nunca usaram drogas ou álcool, mas são adictos ao sexo. Estas crianças, apresentam problemas sérios no seu desenvolvimento, ex. inadequação, baixo rendimento escolar e agressividade.
Segundo Dawe, (2007) quando estes pais iniciam actividades criminosas e ou ilegais relacionadas com os comportamentos adictivos torna-se muito difícil encontrar recursos que contribuam para um estilo de vida saudável.
É preocupante, porque o risco de estas crianças, que crescem em ambientes familiares caóticos, serem sujeitas a vários tipos de abuso é elevado, em particular a negligência (National Center on Addiction and Substance Abuse 1999; Walsh, 2003) .
Segundo Chaffin, (1996) após 12 meses de abuso de drogas por um dos progenitores existem fortes indícios para o abuso e negligência do/os filho/os. Identificar a amplitude do problema, intervir e inverter a progressão da disfuncionalidade nas famílias destas crianças é um processo complexo e delicado.
Infelizmente, a maioria dos centros de internamento/tratamento, em Portugal, que admitem pais ou mães com problemas de drogas lícitas, incluindo o alcool, e/ou ilícitas abordam o problema na perspectiva do cliente - dependência; os membros da familia, inlcuindo as crianças não são contemplados no programa de tratamento. Os resultados do tratamento seriam mais satisfatórios se a abordagem também contemplasse o sistema familiar caótico, por ex. quebrar o padrão disfuncional (adictivo) que afecta o sistema familiar há muitas gerações.
Segundo Hogan, (2006), mesmo que o pai ou a mãe tenham sido submetidas a tratamento, as crianças aparentam não apresentar benefícios a médio e longo prazo.
No próximo post veja as consequências negativas e adversas no ambiente familiar.
As crianças merecem algo mais nas suas vidas do que a dor, o castigo, a inadequação, a obrigação e o caos.
Caso seja um pai ou mãe que encontre dificuldades em gerir os seus próprios comportamentos adictivos (drogas licitas e/ou ilícitas, incluindo o álcool, de jogo, distúrbio alimentar, sexo, trabalho, relações disfuncionais - codependencia, envie a sua questão e tentarei apoia-lo/a.
Não permita que a vergonha do passado se intrometa entre a esperança de um futuro melhor.
Ao longo dos anos tenho observado indivíduos dependentes de substâncias psico activas / adictivas, lícitas, incluindo o alcool, e/ou ilícitas que são admitidos em tratamento, quer seja em regime residencial de internamento ou através das consultas tradicionais presenciais (terapia individual), e ao mesmo tempo, também acompanho individuos que permanecem abstinentes, como parte do seu programa de recuperação duradoura, a que apelido de mudança de estilo de vida (M.E.V.) através de princípios espirituais - não religioso, sem dogmas e divindades - que promovem o conhecimento interior das suas emoções, auto-conceito, competências e talentos, e uma conexão emocional com os outros e o mundo a sua volta (integração activa na sociedade).
Após a admissão em tratamento, em regime residencial de internamento, é iniciada a primeira fase (crucial) - interrupção do consumo de substâncias psicoactivas (auto-medicação de drogas, incluindo o álcool) geradoras de problemas e consequências negativas, ex. perda do controlo dos seus comportamentos, problemas de saúde e familiares, legais e profissionais. Para alguém dependente de drogas, incluindo o álcool, este “passo” é realmente assustador.
A síndrome da Abstinência (Ressaca - dor/sofrimento físico e psicológico) dura aproximadamente entre 15 a 30 dias, cada caso um caso. Hoje em dia, o sofrimento é mitigado por outras drogas lícitas, receitadas por médicos, que permitem ao indivíduo o desmame gradual das substâncias psicoactivas/adictivas até ficar abstinente - “limpo”.
Existem porém casos excepcionais de indivíduos que por um conjunto de razões/sintomas clínicos necessitam de recursos extra e mais prolongados (medicação - monitorizada pelo medico) a fim de permanecerem compensados e estáveis de forma a conseguirem assimilar e aderir ao programa de tratamento. Muitos destes casos, podem estar relacionados com as consequências da dependência das drogas (ex. neuroquímica do cérebro).
Fase Sindroma de Abstinência (Ressaca) 0 – 15 dias de abstinência
Alguns sintomas físicos e psicológicos: Cansaço, vómitos, vontade em usar drogas, incluindo o álcool (nesta fase, conheci indivíduos que ingeriram “aftershave” e álcool puro), pesadelos, suores frios, insónia, irritabilidade, deprimido, angustia e ansiedade, alterações extremas do humor, redução do apetite, dificuldade no raciocínio, na concentração e memória, dores de cabeça, perda do controle dos seus comportamentos (impulsos), atitude negativa e baixa resistência física á dor,
Nota: Observei indivíduos, em tratamento, descompensados psicologicamente, que apresentaram alguns destes sintomas, sem que o seu problema estivesse relacionado com drogas (ex. comportamento compulsivo ao sexo).
Fase da “Lua-de-mel” 16 - 45 dias deabstinência
Alguns Sintomas: “Andar na lua”, euforia, super-confiante - “Está tudo bem…Sinto bem”, Conseguiu ultrapassar a ressaca - sinonimo de dor e sofrimento vs. alivio. Demasiado optimista, negação e ambivalência, o aidcto interrompeu a compulsividade associado aos consumos, e nesta fase pensa que agora já consegue consumir drogas ou álcool de uma forma controlada, conhece outras pessoas que têm o desejo de parar de usar drogas, aprende que a adicção às substâncias psicoactivas é uma doença.
1 - Qual o perfil e padrão do jogador compulsivo na internet? Quais os sinais de alerta?
È quase impossível identificar o perfil do Jogador Compulsivo na Internet (JCI) pode ser qualquer jovem ou adulto (homem ou mulher). Ao contrário do que acontece com a dependência de substâncias adictivas (drogas licitas e ilícitas, incluindo o álcool) o dependente apresenta sinais/sintomas evidentes a nível físico, cognitivo e comportamental. No indivíduo que joga compulsivamente online é extremamente difícil observar qualquer destes sintomas.
Pode ser alguém com poder financeiro que desvia fundos para jogar on-line, por ex. o homem/mulher de negócios que aplica os recursos financeiros das suas empresas e/ou dos seus sócios nas apostas e que utiliza o cartão de credito. Pode ser o individuo que retira dinheiro da sua conta e/ou do seu cônjuge, do filho/a e que aplica nas apostas on-line de uma forma compulsiva. O dia-a-dia do JCI gira em torno do jogo on-line. È o assunto nº 1 na sua vida.
O JCI pode ter sido uma pessoa honesta mas cujo comportamento adictivo o levou a cometer actos ilegais (fraude, roubo, falsificações, crimes de “colarinho branco”, etc.). São pessoas competitivas, energéticas, inquietas e que facilmente se aborrecem quando as suas actividades não envolvem risco. Podem mostrar-se demasiado preocupados com a aprovação dos outros e ser generosos ao ponto da extravagancia.
A actividade associada ao jogo, seja online ou não, proporciona oscilações drásticas no humor. Os altos, são muitos altos (por ex. quando se pensa em vencer, quando se consegue mais um empréstimo, quando se ganha um premio, etc.) e de imediato os baixos, são muito baixos (por ex. quando se perde todo o dinheiro – ex. 100.000 € não conseguindo recuperar absolutamente nada, quando se é confrontado pelas dividas e/ fraudes, quando se rouba e mente “promessas quebradas sucessivas”, quando já não existem álibis para angariar mais fundos para apostar, quando se descobre uma falsificação, a angustia e o pânico e em ultimo caso ideias sobre o suicídio).
Este é um pedido de ajuda corajoso de uma pessoa que deseja ajudar alguém próximo que está "doente".
Em muitos casos algumas pessoas (membros da familia) adoptam o "silêncio disfuncional" contribuindo dessa maneira para a progressão da adicção - através da facilitação, da negação, do encobrimento, da manipulação, da mentira, da vitimização, da desonestidade, racionalização, etc.
Aproveito para divulgar o email (pedido de ajuda) e a resposta que considero mais apropriada, visto estar limitado à informação sobre o caso/problema.
“Boa tarde, chamo-me Carolina (nome fictício)
A minha pergunta é a seguinte:
Um homem com 45 anos sofrendo de ludopatia (adicção ao jogo – jogo patológico) tem recuperação, sem ajuda? Joga muito em jogos de apostas – euromilhões, totoloto e lotaria, envolvendo-se em dívidas que quase o fizeram perder o emprego. Esse comportamento foi herdado do pai sendo que a mãe tem comportamentos obsessivos e adição ao álcool) O que posso fazer para ajudar ou quem posso consultar. Agradeço desde já a sua atenção, pois não sei como lidar com esta situação nem como ajudar.
Resposta: Boa tarde
Sugiro algumas dicas:
1. Proteger a família (membros) do comportamento do individuo doente. Isto significa que é importante preservar a união familiar. Neste contexto é importante proteger os todos os membros da família da manipulação, das promessas frustradas sucessivas de que as coisas vão mudar, das mentiras, proteger o orçamento (finanças) familiar para o mês. O indivíduo doente poderá justificar o jogo como forma de reaver o dinheiro que já perdeu, auto iludindo-se e nalguns casos ate consegue iludir outros sobre as fantasias. Ele joga como se um acto de fé (milagre desesperado) se tratasse que o vai salvar, e á familia, de todos os problemas. Se continuar a jogar as probabilidades de perder tudo são muito maiores do que conseguir recuperar aquilo que perdeu.
2. È preciso que alguém (que designo de herói) que assuma o comando da toda a situação caótica e defina limites e novas regras - MUDANÇA. Porque agora é preciso reflectir ao indivíduo doente as consequências negativas (mentiras, promessas, manipulações, problemas no emprego, etc) do seu comportamento. Através de exemplos práticos e reais. Evite generalizar e culpabilizar. Só ira prejudicar e criar mais defesas no indivíduo doente. Não faça promessas ou ameaças que não pode ou consegue realizar
3. Se quiser poderemos elaborar um plano de INTERVENÇÃO como forma de abordar de frente o problema e delinear soluções, por ex. tratamento ou apoio psicológico. O indivíduo doente não consegue sozinho libertar-se da "rede" que o mantém "agarrado ao problema. Esta rede não só afecta o indivíduo como também afecta aqueles com quem ele se relaciona.
Sugiro apoio on line (Intervenção). Se quiser mais detalhes sobre esta modalidade estou ao seu dispor para prestar todo e qualquer esclarecimento.
Comentário: Gostaria de felicitar esta pessoa corajosa que decidiu “quebrar o silêncio” e procurar ajuda profissional em vez de se manter “fechada na rede” dos segredos, característico deste tipo de ambiente familiar ambivalente e disfuncional.
Todos o seus dados pessoais foram preservados através da confidencialidade. Ao decidir publicar o seu email vai servir de exemplo junto daqueles que sofrem em “silencio” e em desespero. Existem muitas famílias que não permitem quebrar a "regra do silêncio" sobre o problema. O processo de mudança pode não ser pacífico mas, a recuperação é possível.
Adicção consiste no consumo frequente de substâncias psico-activas (dependência de álcool, drogas ilícitas e lícitas, incluindo o alcool e medicamentos receitados pelo medico - benzodiazepinas, tranquilizantes, ansioliticos, analgésicos) ou de comportamentos (sexo, jogo patológico, disturbio alimentar, relacionamentos, trabalho patológico, compras - shopaholics, furto - shoplifting).
No caso das drogas lícitas, incluindo o alcool, e as ilícitas é caracterizado pela perda de controlo (uso continuo apesar das consequências negativas e da incapacidade em permanecer abstinente; aumento da tolerância à substancia (aumenta a frequência e as quantidades para se obter o efeito desejado) e o síndroma de abstinência, vulgo ressaca.
No caso dos comportamentos compulsivos é caracterizado pela perda total de controlo (insanidade/crises exacerbadas/problemas); esforços repetitivos para interromper (controlar) o comportamento problema falham, preocupação frequente ( torna-se o assunto n.º 1 – central na vida da pessoa, o mais importante); negligencia obrigações familiares, sociais, ocupacionais e recreativas de forma a manter a preocupação, bem como, os esforços repetitivos em controlar (comportamento problema) - Ciclo adictivo. Em alguns casos pode ser crónico, progressiva, e por vezes fatal.
Todavia é possível interromper a progressão da adicção e assim iniciar a recuperação.
Existe a Esperança. Caso identifique um problema de comportamento gerador de sofrimento peça ajuda.
Certos comportamentos e/ou o consumo de substâncias psicoactivas associados a certo tipo de indivíduos, dependendo de alguns factores bio-psico-sociais conseguem transformar drasticamente, e em alguns casos, por em risco, a vida dessas mesmas pessoas. A dependência de varias substâncias psicoactivas e/ou comportamentos adictivos podem aparecer no mesmo indivíduo.
Todavia ninguém fica dependente/adicto de um dia para o outro. Através de um acto voluntário inócuo, por ex consumo de substâncias psicoactivas, actividades relacionadas com o jogo, sexo, comida, compras, associado ao lazer e/ou prazer, pode despoletar no individuo sensações de bem estar, cujas memorias futuras serão um reforço positivo e assim aprender os efeitos de agir no prazer e na gratificação imediato – sensação de boas vindas aquele estado de espiríto relaxante e/ou energético. A repetição dos comportamentos poderá despoletar hábitos, crenças e rituais, é um processo que é determinado e influenciado pelas caracteristicas do indivíduo e pela substância psicoactiva e/ou comportamento - factores bio-psico-sociais. Sabia que todos nós estamos expostos a este fenómeno?
Algumas substâncias psicoactivas geradoras de dependência/adicção
Álcool – Estima-se que existam meio milhão de alcoólicos em Portugal.
Drogas ilícitas – Segundo dados do Instituto da Droga e da Toxicodependência indicam que em 2006, 32 460 pessoas participaram em consultas (tratamento ambulatório), principalmente consumidores de heroina (substância opiacea altamente adictiva). Em 2001, 7.8% da população com mais de 15 anos já experimentou drogas. Gostaria de referir que segundo um relatório anual da Organização Internacional de Controlo de Estupefacientes (OICE) o consumo de substâncias psicotrópicas legais (por ex- benzodiazepinas - tranquilizantes, ansioliticos) é maior em Portugal do que em qualquer outro país europeu à excepção da Irlanda. O OICE é um organismo das Nações Unidas a quem cabe analisar o cumprimento das três convenções da ONU sobre droga, afirma que as razões por trás deste consumo exagerado de drogas legais não são conhecidas pelas autoridades portuguesas.
Tabaco – Existem no nosso país aproximadamente 2 milhões de fumadores. Deste universo, 70% afirma querer largar a dependência mas apenas 10% a 15 % consegue deixar de fumar, segundo números da Sociedade Portuguesa de Pneumologia.
Cafeína – O consumo de café em Portugal percapita, em Portugal, ultrapassa os 10 gr diários, o equivalente a 2 cafés em cada 3 dias por pessoa. Entre 1990 e 2003 , o aumento foi de 18% de acordo com o Instituto de Nacional de Estatística.
Alimentação – A obesidade atingia, entre 2005 e 2006, 16,5% dos portugueses com mais de 18 anos, segundo o Instituto Nacional de Saúde. Algumas estatísticas revelam que os homens (20,8%) sofrem mais deste problema do que as mulheres (16,6%). A anorexia, bulímia nervosa, a ingestão compulsiva e a obesidade, são doenças graves com elevados custos psico-sociais.