Contra o estigma, a negação e a vergonha associados aos comportamentos adictivos. O silêncio não é seguramente a melhor opção para a recuperação; ninguém recupera sozinho.
Contra o estigma, a negação e a vergonha associados aos comportamentos adictivos. O silêncio não é seguramente a melhor opção para a recuperação; ninguém recupera sozinho.
Capacidades e competências cognitivas e emocionais em recuperação.
Como podemos executar melhores, e mais eficientes, planos de prevenção de recaída dos comportamentos adictivos personalizados (cada caso é um caso), sabendo de antemão que estamos, como seres humanos, expostos à perda da capacidade de avaliação? Da perda do juízo, do discernimento, do bom senso e capacidade critica.
Nascemos e vivemos com esta característica enviesada, portanto em recuperação dos comportamentos adictivos este enviesamento está presente no caminho. Qual é a atitude que desenvolvemos no caminho de recuperação que construímos, gostamos, protegemos, queremos ver reconhecido e melhore a autoeficácia (olhar para nós mesmos como vencedores perante a adicção)? Acontece com um número significativo de indivíduos, há medida que avançam no caminho, pretendem que a recuperação seja duradoura, mas mais importante, revele a melhor versão deles próprios (presente). A recuperação dá trabalho, senão vejamos. Diante a mudança de atitudes e comportamentos (por exemplo, reestruturação cognitiva e literacia emocional) já não se utiliza o termo “Porquê”. Utiliza-se o termo “Como.” O individuo é o agente da mudança.
Vou tentar resumir o conceito de recuperação da adicção. Cada individuo, deverá ter o seu próprio conceito de recuperação. Não é um único evento, é um caminho abrangente e personalizado, abarca a abstinência de drogas lícitas e/ou ilícitas, incluindo o álcool, a sobriedade, crenças/convicções, relações especiais com pessoas significativas, planear e coordenar, identificar traumas e/ou comorbilidades e procurar ajuda, reestruturação cognitiva e literacia emocional (honestidade, compromisso, regular as emoções, assertividade, espiritualidade, promover um estilo de vida que contempla a saúde física e mental, a carreira profissional, hobbies, auto cuidado, fatores de risco e fatores de proteção da deslize/recaída, relações saudáveis e um caminho/rumo com sentido e propósito.
O que significa avaliação? Quando procuramos a melhor resposta/abordagem é importante recorrermos à avaliação/discernimento/capacidade critica. Diante problemas, desafios e conflitos almejamos possuir capacidades e competências eficientes e resilientes que promovam a autoeficácia.
Porque é que o discernimento/bom senso/capacidade critica é tão importante nas decisões, planos, objetivos?
Estou em recuperação há 23 anos. Neste momento posso dizer que o tempo passa depressa. Quando bebia, tudo me acontecia, havia uma poluição de vozes na minha cabeça, era infernal.
Devo grande parte da minha recuperação à minha Mãe. Nunca deixou de acreditar em mim. Fazia parte das Familias Anónimas e soube como lidar comigo, principalmente nas nalturas certas.
Vou relatar 2 episódios no inicio de recuperação que me ajudaram muito a compreender o que é estar em recuperação. Aceitação da doença e como relacionar comigo próprio e com os outros de uma forma positiva e assertiva. Fiz 2 tratamentos num espaço de 1 ano. O primeiro 1999 e o segundo em 2000.
1º Episódio
Antes de 1999 fiz algumas reuniões de Alcoolicos Anónimos (AA) por sugestão da minha Mãe.
Fui a uma reunião e uma senhora mais velha partilhou a sua dificuldade em comprar uma tv para a filha que tinha sido muito importante na sua recuperação. No final da reunião em conversa com um companheiro de sala critiquei a Sra. Disse que não fazia sentido, era uma palhaçada, e isto não é alcoolismo. O companheiro da sala disse-me:
António, esta senhora tem vários anos de recuperação, já não tem vontade de beber, vontade essa que tú deves ter neste momento. Tú podes ajudar e em vez disso, estás a criticar. Quando saires da reunião vais beber certamente.
Dez minutos depois já estava a beber e foi a 1ª bofatada de luva branca que levei dos AA. Só mais tarde é que dei significado a este episódio. Identificação e interajuda contra a negação e a critica.
Em 1999 Após um acidente viação, conduzia completamente bêbado em que o carro foi para a sucata. Não compareci no julgamento e a policia compareceu na minha morada dias depois.
Aceitei ir para tratamento, não tinha alternativa. Mais uma vez foi a minha Mãe a funcionar nas alturas certas e a organizar a minha vida.
Iniciei o meu primeiro tratamento. Inicialmente não foi fácil. Aceitação do 1 Passo (Admitimos que eramos impotentes perante a nossa adicção e que tinhamos perdido o dominio da nossa vida) foi complicada, as confrontações, só queria sair e beber. Fui ficando, comecei a envolver-me, fiz amizades, os conselheiros sempre impecáveis, mas não fui honesto.
Tinha terminado uma longa relação afectiva e guardei só para mim os sentimentos e acontecimentos que tinha passado com a minha companheira.
Quando terminei o tratamento, iniciei uma nova vida, com reuniões AA e grupos dos Narcóticos Anónimos, tinha amigos, tinha um padrinho, uma vida profissional activa e recuperar a minha companheira era para mim a cereja no topo do bolo.
Correu mal.... Recai e entrei de novo num processo destrutivo.
Senti muita vergonha por ter falhado, mentido, só queria estar de novo sozinho a beber e a ouvir novamente as vozes poluentes na minha cabeça. Bebe! Bebe! Só mais uma........
A minha Mãe voltou a ser fundamental para mim. Disse-me para pedir ajuda no centro tratamento. Sugeriram-me ir a uma reunião e partilhar a recaída.
2º Episódio
Fui a reunião AA, só queria ser o primeiro a partilhar e sair da sala, estava farto, não me sentia bem e queria beber.
No final da partilha principal, um companheiro de sala antecipou-se e iniciou a partilha. Fiquei fulo, mas ouvi a partilha. Era um sr brasileiro, que passava horas na internet, nos blogs e isto em 2000, e contou o seguinte:
Um alcoólico foi parar a um centro tratamento e no fim do tratamento o pai dele financiou abertura de uma empresa. Ele precisava de uma secretária e num anúncio que colocou apareceram 2 candidatas. Escolheu uma secretária bonita sem formação e vez de uma feia com formação.
A empresa corria bem e quando quando fez 1 ano de recuperação foi jantar com a secretária para festejar. Correu mal, envolveu-se com ela e começou a beber, recaiu.
Pergunta do Blog
Quando é que recaiu??
Quando escolheu a secretária bonita???
Quando fez 1 Ano de recuperação??
Quando ouvi esta partilha identifiquei-me tanto, fez-se luz! Quando é que eu recaí?
Quando omiti ou quando fui beber 10 meses depois.
Percebi que recuperação não é recuperar o que tinha perdido. Estar em recuperação é uma nova forma de viver a vida.
Fui novamente para um centro tratamento em que procurei lidar comigo próprio. Percebi que aceitar a minha doença, lidar com os meus problemas, pedir ajuda e ajudar os outros foi fundamental para entrar e manter em recuperação.
Os conselheiros que conheci ajudaram muito e agradeço toda colaboração e experiência de vida e paciência que tiveram comigo.
Hoje sou casado, tenho uma filha, adoro a minha familia. todos os dias, antes de ir para casa no final de um dia de trabalho passo por casa dos meus pais, já velhotes, para lhes dar um beijinho e saber como estão.
Tenho um padrinho há 24 anos que sei que posso contar sempre com ele. Um bom amigo.
Não tenho um hobbie. Gosto de cinema e ouvir música. Tenho um cão há 8 anos. Antes deste também tive outro. Todos os sábados e Domingos acordo cedo e vou para o parque da Bela Vista ou para Monsanto passear.
O Bugas vai solto e sempre à frente durante 1 hora. Eu sigo-o no meio dos meus pensamentos e muitas tomadas deciões foram aqui arquitectadas. São momentos meus. Dou muita importâcia e raramente falto.
Sugerir um livro – “Into the Wild”, existe também em Filme. Forte e pesado, um empurrão para tomadas de decisões.
Todos os dias rezo a oração da serenidade.
Obrigado João
Um abraço a todos
+24
António
Comentário: Obrigado António pela tua participação no Recuperar das Dependências. Sucessos para a tua recuperação. Bem hajas
"Em geral, nos EUA, 2 (duas) é o número médio de tentativas para tratamento de problemas sérios relacionados com o abuso de drogas e alcohol. Nos casos mais graves de dependência de drogas e alcool o número de tentativas para tratamento aumentam para o dobro." Recovery Research Institute
E em Portugal? Não conhecendo números ou estimativas em investigações, consigo refletir sobre o assunto de acordo com a minha experiência empírica na area do tratamento das dependências durante três décadas. Há trinta anos atrás, a disponibilidade do tratamento era completamente diferente do que é na atualidade. Atualmente, apesar de o estigma se manter inalterável e imutável, a disponibilidade de tratamento da adicção a drogas e álcool, creio estar ao alcance de qualquer pessoa, devido às novas tecnologias. Sabemos que quando se coloca a questão da necessidade de tratamento das substâncias psicoativas (drogas lícitas, incluindo o álcool, e ilícitas) na família, recorrem ao Google para facilitar na seleção da instituição. Na minha opinião, o número de tentativas para tratamento das drogas e álcool em Portugal é semelhante à realidade dos EUA, segundo o Recovery Research Institute.
Felizmente, conheço imensos casos de pessoas que à primeira tentativa conseguiram permanecer abstinentes e em recuperação durante longos períodos de tempo. Infelizmente, conheço algumas famílias e indivíduos, que andam há mais de duas décadas a tentar resolver o problema da dependência das drogas e do álcool. Para terminar, considero mais difícil, isto é, necessário mais tentativas para tratamento do que as drogas, o álcool. O álcool é uma droga legal e a sociedade encoraja, estimula, promove o consumo e o abuso do alcool entre as pessoas - pertencemos a uma cultura que bebe. Atrevo-me a afirmar que em pleno seculo XXI ainda existem pessoas que não sabem que o álcool é capaz de gerar dependência.
Sabe o que significa a palavra Ressentimento? Segundo o Dicionário de Língua Portuguesa (6ª Edição) da Porto Editora, “Ato ou efeito de ressentir (sentir novamente) ou de ressentir-se; lembrança dolorosa de uma ofensa recebida; melindre; rancor.”
Se você identifica um ressentimento, isso é OK é normal. Na sua perspetiva, qual é o motivo pela qual ainda valoriza o ressentimento do passado? É um ressentimento de “estimação” ou considera-se uma vítima? Quais as consequências negativas do ressentimento? Derivado ao ressentimento, atualmente, como é que lida com os sentimentos? Considera que o ressentimento afeta, as pessoas significativas, à sua volta? Considera que o ressentimento afeta a comunicação com os outros? É agressivo/a? É passivo/a?
A comunicação desempenha um fator crucial na existência entre seres humanos cuja aprendizagem decorre ao longo da vida. É assim, desde há milhares de anos. Atualmente, a comunicação é alvo de estudo em instituições e pessoas, estuda-se a comunicação em organizações, comunidades, no trabalho, na família e no individuo em recuperação da adicção.
Algumas dicas para a gestão de competências e conflitos na comunicação.
Assertividade é arriscar em ficar vulnerável e decidir com base na verdade.